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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Relato de Ana Luiza Borges de Souza


Vou contar a história do nascimento dos meus dois filhos:  

   Engravidei do meu primeiro filho aos 14 anos, é claro que não sabia absolutamente nada sobre gravidez. Fui ao GO, que foi o mesmo que fez os partos da minha mãe e da família toda. Chegando lá, ele disse ser gravidez de risco, pela idade e já queria agendar a cesárea... disse q por volta do dia 22/03/96, mas como o aniversário do meu pai é dia 20, eu ainda pedi pra adiantar mais doi dias... que lindo né.. <3... tive uma gravidez tranquila, sem enjoos, sem problema nenhum. 
   O médico era um caso a parte, super querido, cuidadoso, como eu não queria saber o sexo, não fiz nenhum ultra a gravidez toda (não era tão normal naquela época), ele me acompanhou só apalpando a barriga, sabia a posição do bebê, quando virou, tudo certinho, muito atencioso sempre. No dia 08/02/96, quando acordei, percebi um pequeno sangramento, fui ao médico, ele me examinou, viu que eu estava com 1 cm de dilatação, e aí sim me encaminhou pra um US, onde foi percebido que eu estava com um pequeno descolamento de placenta. Fiquei internada até dia 10 de manhã tomando medicamentos pra segurar o trabalho de parto, ele me mandou embora recomendando repouso absoluto. Mas no dia 10 na hora do almoço as contrações começaram a voltar, quando foi umas 18:30h voltei ao médico, aí sim, já estava com 5 cm de dilatação, o bebê realmente queria nascer, exatamente 40 dias antes da minha cesárea agendada. Ele me avaliou e disse que o bebê seria prematuro, e que nessa situação seria extremamente importante que ele nascesse de parto normal, pois isso ajudaria ele a amadurecer, e disse q eu teria q tomar 2 injeções de medicamentos pra amadurecer o pulmão do bebê, uma naquele momento e outra meia noite. No começo foi tudo bem, as contrações eram calmas, com o passar do tempo foi piorando, aí eu, do auge da minha maturidade aos 15 anos disse que não ia mais fazer o parto normal, que tava doendo, que não queria e pronto, não ia fazer força e tudo mais. Ninguém me deu atenção...rs... o médico e meus pais me enrolavam dizendo que estavam preparando o centro cirúrgico pra cesárea e tudo mais... mas isso era só pra passar o tempo... eu tinha certeza que eu ia morrer na próxima contração. Chegou um momento sábio, que mesmo não querendo, meu corpo começou a querer fazer força. Eu fiquei no quarto o tempo todo com minha família, meus pais, amigos, namorado, só as 23:30 h mais ou menos, me levaram pra sala de parto, fiquei na posição ginecológica, fizeram episio e a manobra de kristeller e o bebê nasceu as 23:45h. Eu já tinha passado pela raspagem e pela lavagem intestinal. Me mostraram o bebê rapidamente, e levaram ele pro berço aquecido no berçário. Minha placenta logo saiu, fizeram a sutura e me levaram de volta pro quarto. Quando foi as 3 da manhã, a enfermeira veio me perguntar se eu queria que o bebê ficasse no berçário ou no quarto comigo... claro que quis ele no quarto, ele veio, eu sentei, amamentei, e não larguei mais. Foi super rápida a recuperação, apesar das intervenções, foi tudo muito tranquilo, com muito carinho da equipe e eu adorei o parto normal, ali tive certeza que todos os filhos que eu tivesse seria do mesmo jeito. Fiz tudo particular.

   Claro que não dei certo com esse namorado né... fiquei um tempo sozinha, casei 15 anos depois e apesar de tudo contra, logo engravidei.

   Agora sou funcionária pública estadual aqui no Paraná, então temos o SAS (falido), fui na primeira consulta e adorei a médica, ela pediu os exames iniciais e no meu retorno me avisou que estaria se desligando do SAS.  Fiquei triste e marquei minha próxima consulta com um outro médico, quando cheguei na primeira consulta com ele, estava eu e minha mãe, ele nem levantou a cabeça do q estava escrevendo e perguntou qual era meu caso, quando disse q eu estava grávida, ele lentamente começou a levantar a cabeça, me olhou e disse o seguinte: “então vamos emagrecer né, porque eu não faço parto de gorda... iiii... gorda da muito trabalho, é diabetes, pressão alta, eu não faço não... se não emagrecer eu passo pra outro...” fiquei sem reação, claro que não preciso dizer que não voltei né... como não tinha mais nenhum obstetra lá.. voltei a fazer o pré natal particular com o médico do meu primeiro parto, sempre buscando o parto normal... comecei a entrar em vários grupos no face.. e fui conhecendo o parto humanizado... e descobrindo coisas que eu nem imaginava... fui em umas 4 consultas com esse meu médico e descobri que tinham entrado algumas médicas novas no SAS... aí marquei uma consulta e voltei lá ver se dava certo né... porque lá eu não pagaria nada... marquei consulta com uma médica... fui.. disse o que eu buscava e simplesmente amei.. ela super atenciosa.. me contando de vários partos que atendia na maternidade municipal de Londrina... enfim.. achei tudo de bom... ela dava algumas dicas de ser cesarista... e eu não percebia... disse q esperava só até 41 semanas... q o bebe não podia ter mais de 3.500kg.. e coisas assim... qd fiz o exame da curva glicêmica, tive um pico diabetes (passou 4 números do máximo dentro da normalidade)... ela já falou um monte... mas fiz dieta e media todos os dias.. nunca mais tive nenhuma alteração....a gravidez foi supertranquila... e não tive mais nenhum problema... qd fui chegando as 32 semanas.. começaram os desconfortos.. as contrações começaram a ficar mais frequentes... um dia estava mais constante e fui ao PS, o médico me examinou e disse q eu estava com 1 cm de dilatação.. mas eu poderia esperar a próxima consulta com minha médica que seria uns 3 dias depois... ela me examinou novamente, e eu já estava com 3 cm de dilatação... bebê encaixadinho e colo amolecido... tava super na cara que ele seria prematurinho... ela inclusive me mandou tomar injeções de corticóides... a DPP era 25/09... e isso era no começo de agosto... ela falou que estava com medo desse bebê resolver nascer bem no feriado de 07/09,.. porque ela estaria viajando.... acho que isso era um sinal né... =/ … 1 semana depois, com 34 semanas.. eu achei q estava perdendo líquido.. voltei ao PS... fiz um ultra e meu ILA tava 6,3.... o normal é acima de 8 …. (hoje eu sei que a médica poderia me indicar super hidratação e repetir os exames.. mas ela não fez isso)... disse que pouco líquido é sinal de insuficiência placentária, que o líquido é o xixi do bebê.. e q se ele não faz xixi é porque esta com problemas... e todo aquele blá blá blá... marcou uma cesárea de “emergência” pro outro dia... e infelizmente foi assim que meu filho nasceu... tão diferente de tudo que eu imaginava.. de tudo que eu queria... antes do tempo dele.. cheio de intervenções... eu ainda choro de lembrar.. estou chorando agora escrevendo tudo isso... ele nasceu... foi examinado... e levado pra longe de mim.. meu marido foi junto e eu fiquei sozinha na recuperação... fiquei lá por 3 horas... sozinha.. sem ninguém... pedindo meu bebê.. e ninguém me dava atenção... qd finalmente me levaram pro quarto, todo mundo já tinha visto meu bebê.. tirado foto.. filmado... meu marido me trouxe ele e pude finalmente amamentar.. toda torta.. dolorida... tive muita coceira.. muita sede.. enjoos.. foi horrível... uma das piores experiências da minha vida... não consigo nem ver as fotos do dia do nascimento do meu bebê... graças a Deus apesar de tudo temos um vínculo incrível... eu ainda amamento... e vou continuar até ele querer parar.......
o mais difícil.. é que ninguém entende a nossa dor... a nossa revolta... tipo.. eu e o bebê estamos bem não estamos.. qual o problema então????

comprei o renascimento do parto.. meu marido assistiu comigo.. e finalmente me entendeu... pretendo engravidar novamente ano que vem.. e vamos juntos buscar uma história diferente pro nosso próximo filho.

Por Ana Luiza Borges de Souza. 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O Ministério da Saúde e ANS criam normas para reduzir cesarianas

A partir desta quarta-feira (15), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) coloca em consulta pública duas resoluções que visam à redução de cesarianas desnecessárias entre consumidoras de planos de saúde. As medidas sugeridas pela Agência, está a ampliação do acesso à informação pelas beneficiárias, que poderão solicitar as taxas de cesáreas e de partos normais por estabelecimento de saúde e por médico – independentemente de estarem grávidas ou não.

Propostas de mudança do modelo de assistência vigente foram anunciadas nesta terça-feira (14), em Brasília, pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro, e o diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), André Longo. As medidas foram elaboradas por um Grupo de Trabalho específico constituído por servidores da ANS.
O ministro da Saúde destacou a importância do enfrentamento ao que pode ser considerada uma epidemia de cesarianas no país. "No setor privado, o percentual que temos de partos cesáreos deveríamos ter de partos normais. Respeitar a mulher é, acima de tudo, disponibilizar a ela todas as informações sobre o parto normal e fazer com que o parto cirúrgico seja adotado apenas quando indicado", ressaltou Chioro.

Além da transparência das informações, as resoluções preveem ainda a apresentação do PARTOGRAMA, um documento que deverá conter as anotações do desenvolvimento do trabalho de parto, das condições maternas e fetais. O documento, além de uma importante ferramenta de gestão para as operadoras, será parte integrante do processo para pagamento do parto. Em casos excepcionais, o PARTOGRAMA poderá ser substituído por relatório médico detalhado.
"O partograma vai mostrar a evolução do parto, com as informações sobre dilatação, contrações, que vão auxiliar, inclusive, na troca de plantão médico. Com o documento, será possível identificar a realização das cesárias sem indicação médica. No entanto, mais do que adotar medidas coercivas, a ANS acredita que é necessária uma mudança de cultura. A Agência vai fiscalizar essas ações assim que as resoluções entrarem em vigor e contamos com o apoio das mulheres nesse processo", explicou o diretor-presidente da ANS, André Longo.

A proposta também inclui a distribuição, por parte das operadoras de planos de saúde, do Cartão da Gestante com a Carta de Informação à Gestante, instrumento para registro das consultas de pré-natal, com orientações e dados de acompanhamento da gestação.
As novas normas e os demais documentos necessários para detalhamento da consulta pública estarão disponíveis para análise dos interessados. O envio das contribuições ocorrerá de 24 de outubro a 23 de novembro e deverá ser feito exclusivamente em formulário disponível no portal da ANS. A expectativa é que as normas entrem em vigor em dezembro.

A cesariana, quando não tem indicação médica, ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê: aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Atualmente, no Brasil, o percentual de partos cesáreos chega a 84% na saúde suplementar.
"Não estamos demonizando a cesariana. Existem muitos casos em que elas salvam vidas. A cesariana é uma conquista científica, mas não ter este excesso. A escolha do modelo de parto é, fundamentalmente, uma questão de saúde, e deve estar condicionada ao que for mais adequado para cada caso e ao que for mais seguro para a mãe e o bebê", destacou a gerente de Atenção à Saúde da ANS, Karla Coelho.
AÇÕES - Com o objetivo de mudar essa realidade e incentivar que o setor adote um comportamento mais focado na promoção da saúde e na melhoria da assistência ao parto, desde 2004 a ANS tem promovido uma série de iniciativas.
Um dos destaques é a criação de indicador no Programa de Qualificação da Saúde Suplementar, com melhor pontuação para as operadoras com menor proporção de parto cesáreo. As ‘notas’ das operadoras são publicadas no portal da ANS e apresentadas anualmente à imprensa. Outra ação é a inclusão, no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, da cobertura para parto acompanhado por enfermeira obstétrica e acompanhante – sem cobranças adicionais – durante o pré-parto, parto e pós-parto imediato. O rol é a cobertura mínima obrigatória para todos os planos de saúde.

A ANS também propôs ações para a mudança do modelo de atenção ao parto, com a elaboração, implantação e coordenação de projeto-piloto baseado nas melhores evidências científicas disponíveis, em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein, o Ministério da Saúde e o Institute for Healthcare Improvement; e o incentivo à habilitação de hospitais privados à iniciativa Hospital Amigo da Criança, que estimula as Boas Práticas de Atenção ao Parto e Nascimento, de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Fonte: ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Relato de Egle Darin

   É muito comum as mulheres que passam pela experiência do parto humanizado fazer um relato de parto. Aqui está o meu, que tem como objetivo me auxiliar a recordar este momento tão especial, mas principalmente servir de inspiração para outras mulheres, pois os relatos me ajudaram a desenhar, idealizar, planejar e protagonizar o meu parto humanizado. Compartilhem com quem quiser!

Acho que esse relato não começa no dia 3 de julho de 2013, começa muito antes, ainda quando eu decidi fazer um curso de massagem para poder ter contato com pessoas e fazer algo por elas, não demorou para eu me interessar mais no cuidado de outro Ser e fui fazer curso de Reiki, que me trouxe também o caminho espiritual. Com o Reiki percebi que o que eu queria fazer da vida era mesmo cuidar de pessoas, como uma profissão, então me formei como terapeuta corporal holística na Humaniversidade, neste momento passei a ter uma visão diferente do Ser Humano e entender que ele carrega no corpo não somente dores, mas muitos desequilíbrios emocionais, psicológicos e espirituais, tudo isso por conta de traumas, medos, preocupações, etc.

Passei a ver o ser humano como um ser sagrado. Durante a aula de massagem indiana, aprendi que a mulher era o portal da vida, um ser totalmente sagrado e achei uma bela forma de pensar e de se viver.

Nesta jornada com terapias atendi algumas gestantes e era algo indescritível cuidar de uma grávida, era pleno e especial, mas chegava o dia que eu não mais as atendia, pois chegava o nenê.
Em algum e-mail recebi a informação sobre curso de Doula, que nunca tinha ouvido falar e pesquisei mais e aprendi que era uma acompanhante no dia do parto (pré e pós também) e achei aquilo lindo e vi a possibilidade de poder continuar com as gestantes, mas nunca conseguia fazer o curso, mas o importante eu já sabia: O que era uma Doula.

Uma linda teia começou a ser tecida. Nos encontros de Reiki com meus amigos de caminhada na Luz, muitos deles sentiam a necessidade de cuidar do meu ventre, eu me espantei a primeira vez, achei até que já poderia estar grávida, porém este cuidado durou acho que por volta de um ano, sim, um ano pelo menos sendo preparada para receber o grande presente da minha vida.

E a teia foi se formando, as coisas foram acontecendo e tudo foi se interligando. Em uma conversa informal com uma amiga, a Déia, perguntei para ela se sabia quem vendia coletores menstruais e ela me indicou a Renata, troquei e-mails com ela, adicionei no facebook e vi que ela era Doula, olha que legal! Sempre via as postagens dela sobre parto humanizado e achei muito, muito maravilhoso. E como terapeuta, eu sabia que muitos dos nossos traumas eram decorrentes da gestação, parto e recepção
pós-parto e compreendi que o parto humanizado era uma "pré-cura" para os nossos traumas, quantos problemas teríamos poupado com um nascimento adequado.

Ter certeza mesmo que se um dia eu tivesse um filho o parto seria humanizado, foi quando assisti o vídeo do parto da Sabrina. O Vinicius, meu marido, assistiu primeiro e comentou comigo e eu assisti. Como nós os conhecíamos (a Sabrina e o Fernando), eu achei aquilo extremamente emocionante e achei incrível que esse tipo de parto não era só para famosos. Aquilo me tocou profundamente.

Sabendo de tudo isso, o que faltava mesmo era o neném chegar, o qual ainda não pensávamos muito.

Passamos o ano de 2012 planejando nossa viagem aos Estados Unidos, conhecer o Yosemite, Disney, Las Vegas, visitar amigos em Ohio, viagem grande marcada para dezembro.
Nessa de planejar a viagem eu até pensei em não ter filhos, iria conversar com o meu marido sobre isso, pois achei que queria uma vida bem livre. Esse pensamento foi por volta de umas duas semanas da grande notícia, acho que Deus ouviu meus pensamentos e decidiu agilizar a chegada do Mikael, antes que fosse tarde demais, mas no fundo acho que era isso que eu queria, porque eu sabia dos "riscos" que estava correndo quando decidi dar uma escapadinha na prevenção.

Foi uma surpresa grande a gravidez, ainda mais às vésperas de uma viagem, a ficha demorou para cair e curtir mesmo todo o momento foi quando fiquei sabendo que era um menino.

Desde o momento que soube que estava grávida eu sabia que queria o parto humanizado. Como eu não ia há anos em um ginecologista, fui poupada de cair nas mãos de alguém que pudesse me enganar, pois pedi indicação de obstetra humanizada para a Renata, depois da consulta decidi que seria parto humanizado hospitalar, pois era mais seguro. E eu amei o pré-natal humanizado, sem toques, com muita conversa e respeito.

Vital foi participar dos grupos de de apoio junto com o Vinicius, o vínculo e o Samaúma. Lá me sentia em casa, aprendia e ia compreendendo que tudo ia muito além de apenas um parto humanizado, mas sim um resgate do meu Ser, a minha porção bicho e mamífera.

Ao longo dos meses depois de ler inúmeros relatos, me emocionar com diversos vídeos, a vontade de um parto domiciliar foi crescendo, crescendo e crescendo, mas eu tinha medo, medo de quê? O medo eu descobri durante uma vivência no AnimaSoma, foi de arrepiar, pois percebi que o medo era do que as pessoas falariam caso algo desse errado e o tanto que eu poderia me culpar com isso. Conhecendo esse medo eu superei e entrei em estado de entrega, pois eu sabia que se algo pudesse acontecer, seria no hospital ou em casa, eu estava cheia de informação baseada em evidências e sabia que o parto domiciliar era mais seguro. E não combinava eu ir para um hospital...
eu não gosto de hospital, morro de medo da infecção hospitalar, do ambiente de doença e morte, aliás, nunca deveriam ter cogitado unir o nascimento a um ambiente hospitalar, deveria existir somente casa de parto ou só maternidade.

Mas o ponto chave para saber que eu queria o parto domiciliar mesmo foi quando assistimos o vídeo do nascimento do Théo. Foi um momento muito espiritualizado, me emocionei e entendi que eu queria não somente um parto humanizado, mas também espiritual e eu não conseguiria isso em um hospital, acho que foi por volta do quinto ou sexto mês que optamos pelo parto em casa, corre então escolher a equipe. Como o parto do Théo que me motivou, eu fui em busca das mesmas pessoas que fizeram parte, mas até chegar nelas conheci outras profissionais e o mais doido do parto humanizado é que dá vontade de chamar todo mundo para o dia do parto, porque são profissionais encantadoras.

Tudo certo, decidido, era só esperar e ir se planejando, comprar as coisas necessárias para o dia do parto. Eu muito devagar fui comprando aos poucos. Estava bem tranquila, curtindo a barriga, o momento. Me lembro que fizemos a sessão de fotos de gestante no sábado dia 29 de junho e quase que eu fico sem as fotos, pois dali 5 dias Mikael chegaria.

Na noite do dia 1 de julho saiu um negocinho diferente e cogitei que era o tampão, mas como o aspecto era diferente do que eu vi em fotos na internet, pensei que pudesse ser algum machucado por conta do uso do Epi-No, que no dia anterior eu tinha aumentado as infladas, entrei em um processo de negação ferrado, não queria acreditar por nada que estava chegando a hora, afinal, nem 37 semanas o Mikael tinha completado ainda.

Na terça-feira de manhã coliquinhas e eu pensei, ah, deve ser pródromo... e o tampão saindo freneticamente. Mas em todo caso, passei o dia tranquilinha em casa sem fazer nada, só descansando, mas a única coisa que quis fazer foram as compressas para o pós parto, fui dormir bem tarde por conta disso.
Liguei para a Renata que orientou a ficar observando, eu sabia que o tampão poderia começar a sair muitos dias antes do parto, então eu jurava que ia demorar ainda no mínimo uma semana.

O meu marido achou melhor trabalhar de casa no dia seguinte e se preparou para tal, ele sabia, ele tinha certeza, eu que não.

De madrugada comecei a sentir um pouco mais de dores, mais ritmadas, ah, mas deve ser pródromo (olha a negação). 4 horas da manhã o bicho começou a pegar um pouco mais e avisei o Vi, mas no processo de negação eu continuei deitada e sentindo as contrações até que umas 6 da manhã (eu acho, e agora tudo o que é relacionado a hora é baseado em achismo) liguei pra Renata que me orientou a ir pro banho (e eu já tinha tomado um banho) e observar e qualquer coisa ligar de volta.

Aí começamos a contare estava com ritmo, mas eu ainda achava que era pródromo. Liguei para a Ana Cris, que me informou que por conta da idade gestacional não poderia fazer em casa e me disse para ligar pra Mariana, neste momento eu tinha duas opções, ou eu ficava chateada e triste pelo meu sonho de ter um parto em casa não se realizar ou aceitar que era o melhor para mim e o Mikael, claro escolhi a segunda opção, tive que arrumar forças para pensar só no lado bom. Acho que liguei para a Mariana, depois pra Renata já pedindo para ela vir pra casa.

E então comecei a curtir as contrações e esperar a Renata e Mariana chegarem em casa. O computador estava na mesinha da cozinha e então entre uma contração e outra me lembrei que precisava ouvir as músicas que eu havia preparado para o parto, coloquei o Mantra de Sarasvati e ele me acompanhou neste momento. Esse mantra ouvi muito nas aulas de Yoga com a Paula e foi extremamente especial ter contrações com esse mantra, ali na cozinha, apoiada na cadeira vermelha, sentindo o poder da Mãe Divina me amparando.

A Renata chegou, UFA, que alívio, e ela parecia uma visita, serena e calma, a primeira visita na minha vida que eu recebi peladona, foi muito legal e descontraído, ela tomou café, agradou os gatos, como seria bom continuar tudo aquilo em casa.

Chegou então a Mariana e me aliviei ainda mais, achei que ela fosse confirmar que eu estava tendo pródromos, hahaha... Ela me pediu para deitar, pois durante uma contração gostaria de ver minha dilatação, ok, vamos deitar, aaaffff, contração deitada é UÓ! Ela fez o toque e me perguntou quanto eu achava que tinha dilatado e conversei na minha cabeça: "Deve ser uns dois, ah, magina, não deve ser é nada, não tô em trabalho de parto, nem tá doendo tanto assim" e eu falei, NADA, ela só olhou para mim e disse (eu acho): "8 Egle". Neste momento a ocitocina invadiu todo meu corpo, porque eu gargalhei em gratidão, não acreditava que tinha dilatado 8 cm tão
tranquilamente. Sim, doeu, mas eu não tive essa percepção. Então era isso, Mikael estava chegando mesmo.

OK, 8 centímetros, é hora de ir para o hospital. Dou uma dica, jamais façam a mala do hospital em trabalho de parto, hahaha. Hoje eu me lembro e foi engraçado. Para mim deixar a mala de hospital pronta era como me preparar para o um parto hospitalar e não um domiciliar, então nem tinha pensado nisso, negava. Aliás, foi terrível para mim deixar a minha casa, eu sabia que eu voltaria outra e não imaginaria como seria.

Coloquei o primeiro vestido mais fácil que vi e fomos para o hospital e eu rezando para ter poucas ou nenhuma contração no carro (ahn hã né), mas de fato as contrações no carro foram bem mais leves do que em casa, deu certo a reza, mas isso não significa que não foi desagradável. Me lembro que em um certo momento eu perguntei pra Renata quando eu ia entrar na partolândia e ela disse que já deveria estar entrando... No carro a vontade de rir veio, eu ri, ocitocina? Partolândia? Tudo isso junto.

Chegamos no hospital, péssimo ter que passar pela recepção cheio de gente e você lá com contração querendo dar umas gemidas. Vinicius tinha que cuidar da parte burocrática e eu desesperada porque ia pro quarto sem ele e eu jurava que o Mikael já ia nascer, devia ser próximo do meio dia, sei lá.

Fui pro quarto, primeira coisa foi arrancar o vestido e sei lá a ordem de tudo o que aconteceu. Mas eu queria a piscina, como eu queria a piscina que eu tinha deixado para comprar no sábado seguinte, hehe. A bola não me serviu, não gostei, para mim o melhor foi mesmo ter contrações apoiada na cama e no chuveiro.

Consegui ancorar a sacralidade deste momento, comecei a me sentir plena, feliz e amparada pela hoste celestial, as músicas tocando, aquele dourado do Sol iluminando o quarto, o ventinho feito pela Renata, que eu achava que estava vindo da janela. Entre uma contração e outra eu conseguia ouvir as músicas que eu havia escolhido, me lembrava do que elas representavam para mim, principalmente as que os meus amigos e irmãos na luz me enviaram, as que tocaram no meu casamento, a música do grupo
LAMAT, nossa, que especial que foi. Dancei, ri, flutuei. É incrível que a dor vem e logo em seguida vem o prazer, vem a serenidade, a paz. Doeu, doeu sim, mas só sei que doeu porque eu sei, mas não porque eu me lembre da dor.

PLOCT, a bolsa estourou e me orientaram a sentir o cheiro, aliás, cheiro de parto e nascimento é tudo de bom!

Me lembro das palavras de coragem da Mariana quando foi percebido que eu estava com MEDO (sim, rolou MEDO). Já era hora do expulsivo, mas eu travava, por conta desse medo.

Mariana me perguntou do que eu estava com medo e disse que era de morrer, depois disse que era da dor, mas depois que o Mikael nasceu eu refleti bem e no fundo, o medo era de que ele não seria mais só meu e estava chegando o momento de dividi-lo com o mundo, e tinha também o medo de toda a mudança, de que a Egle estava morrendo, para nascer uma nova Egle, totalmente diferente e que eu não conhecia, eu daria conta de ser mãe?

Lembro-me da Otília, que receberia meu nenê com todo carinho. Ela trouxe o olho azul dela, que encarou os meus olhos temerosos e me trouxe paz.

Estava lá eu naquela luta com meus medos e a vontade do Mikael nascer quando a minha amiga Val chegou, aquele momento foi único, pois embora eu estivesse me sentindo em um momento especial e sagrado, eu precisava ancorar mais as energias superiores e a Val chegou trazendo isso tudo, a presença dos Mestres e do Reiki. Ela me perguntou o que eu queria que ela fizesse e eu só respondi: REIKI.

E toda a equipe estava lá, completa: Mariana, Renata, Otília, meu marido Vinicius e a Val. A minha tribo, que me ajudaria naquele momento tão sublime e obscuro ao mesmo tempo.

Percebi que eu estava "enrolando" (negando, com medo) no expulsivo e que eu precisava ir até o fim, continuar com a força, para que o Mikael pudesse vir. Os gritos vinham, não eram de dor, eram de força, sabia que precisava do chakra da garganta para ajudar no chakra básico. E eu mudava de posição, cócoras, de pé, na cama sendo ajudada pela Renata que me dava um tecido para eu puxar.

Jamais vou me esquecer de um dos momentos mais especiais, entre uma contração e outra, na cama tive um momento que senti um pulsar extremamente prazeroso, vontade de rir, e eu pulsei, o chakra básico pulsava, era aquilo o tal do parto orgásmico? Me lembro que neste momento pediram para eu descer da cama para ficar de cócoras e eu disse que esperasse um pouco, pois queria curtir aquela sensação.

Eu sabia que o Mikael estava ficando cansado e eu PRECISAVA do grande puxo, pelo bem dele, então busquei as minhas forças, levei a cor vermelha para o chakra básico e a luz branca entrando pelo coronário (assim como aprendi na meditação na aula de Yoga), me levantei e com o grito primal eu acocorei e senti então a cabecinha do meu anjo guerreiro passando pelo círculo de fogo.

O Vinicius veio na minha frente, do meu lado estavam Renata e Val.

Em outro puxo bem mais leve saiu o corpinho do meu pequeno e que foi recebido carinhosamente pelo pai, que logo me entregou, para que pudéssemos então nos conhecer às 16:05.

Não sei descrever o que rolou neste momento, acho que eu o segurei ainda sem olhar, apenas agradecendo, não me lembro dele chorando, me lembro sim quando eu o olhei, quando coloquei minha mão em sua cabecinha quente e cheia de vérnix, ah! O vérnix, eu preciso sentir o cheiro disso, sublime!!! O melhor cheiro do mundo. O olhar, o imprinting, o amor. Me senti uma leoa com a cria, o tempo parou, o mundo não existia, só existia eu e o Mikael.

Ficamos ali, nos curtindo e chegou o momento de me levantar para ir para a cama, com ajuda da equipe me levantei com ele nos meus braços ficamos ali, toquei o cordão e o senti pulsar, foi tão gostoso sentir o nosso elo que ainda pulsava o sangue ali restante para o corpinho do Mikael.

Ele ali no meu colo gostosinho, eu ainda cheia de ocitocina senti uma coisinha e foi a hora de parir a placenta. Ela saiu rapidinho, sem dor, coisinha mais linda, a Mariana me mostrou e eu achei pequenininha.

Então um momento que foi difícil para mim, cortar o cordão, eu sabia que aquele momento representaria o corte definitivo dos laços corporais entre eu e Mikael. Eu expliquei para o Mikael o que estava acontecendo e disse que por mais que o cordão estivesse sendo cortado, o cordão de Luz que nos unia permaneceria para sempre, chorei um pouco, me contive para não me debulhar em lágrimas. Então Vinicius cortou o cordão, que já não pulsava mais.

Mikael carinhosamente foi acolhido pela Otília para os procedimentos necessários: pesar e colocar roupinha... sem banho, sem colírio, sem aspiração, apenas amor.

Enquanto isso a Mariana me dava uns pontinhos na laceraçãozinha e isso foi mais desagradável do que parir. Mas eu ainda estava em outro mundo, dificuldade para falar, tremedeira, sons distorcidos, uma coisa muito maluca.

Era hora de ir para o quarto, Mikael foi colocado no meio das minhas pernas e me lembro do calorzinho dele, que corpo quentinho, gostoso.

Não tive o parto domiciliar, acho que tive que passar por isso no hospital, talvez se eu estivesse em casa os medos seriam ainda maiores, eu ficaria encanada com tudo, em controlar o andamento de tudo, ver se a equipe estava se alimentando, se ninguém deixaria os meus gatos fugirem. Talvez eu não tivesse conseguido me entregar.

Ali no hospital, ainda de noite, o silêncio do quarto foi quebrado por gemidos vindo do corredor, gemidos prazerosos e alguém gritando, corre que vai nascer, traz lençol e logo em seguida um forte grito e um chorinho. Eu ali vibrava por aquela mulher que pariu em estilo vapt-vupt, chorei junto com ela, sem nos vermos, sem eu saber quem ela era, sem ela saber que eu estava ali, me senti conectada e isso me remeteu a todo o momento que há poucas horas eu havia vivido.

 Emano minha gratidão a Deus, que me permitiu entrar em contato com pessoas e conhecimentos tão maravilhosos. Emano minha gratidão aos meus pais e sogros, sem eles eu nada seria. Emano minha gratidão ao meu marido que mergulhou fundo comigo sem duvidar em nenhum momento do meu poder de parir, que me acompanhou nos encontros e que acariciou a minha barriga. Emano minha gratidão à equipe, Val, Mariana, Otília e Renata, bem como Kelly Stein que foi chamada de última hora e chegou chegando, registrando com suas lentes este momento tão especial. Agradeço aos grupos Vínculo e Samaúma. Agradeço a toda mulher que compartilhou
seu relato de parto, vídeo de parto, fotos e me ajudaram a buscar a inspiração e a vontade de ser a protagonista do meu parto. Agradeço a toda galera do Anima que me ajudou a ter um corpo mais vibrante e pulsante com tanto amor e carinho.
Agradeço a Arcanjo Miguel, o grande protetor de toda minha vida e a Bem amada Mãe Maria que com sua presença me ajudou a confiar no meu sagrado poder feminino.
Agradeço ao Reiki, a terapia que me acompanha e me fortalece sempre. Agradeço aos amigos e todas as orações e envios de energia. Agradeço minha família que nunca contestou meu parto humanizado.

Agradeço ao meu filhinho Mikael, que foi um guerreiro e aguentou firme o trabalho de parto e chegou cheio de vida, amor, LUZ!

E que com este relato, outras mulheres possam reconhecer o seu potencial de parir ser a protagonista deste momento tão especial e único.

Namaste _/\_

 

Por Egle Darin

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

UMA CRÔNICA SOBRE A DOR NO PARTO

Residente de enfermagem obstétrica e outras 6 colegas de residência, escreveram essa crônica:


Depois de muito conversar com minhas colegas de profissão e de luta, chegamos a algumas conclusões...

"Qual o parto que dói mais?"

Aquele que nos é roubado!
Seja pela desinformação, seja pela manipulação a cada consulta pré-natal, seja pelos "conselhos" que todo mundo sabe dar quando a gente engravida...
Quem não tem um irmão, uma mãe, um pai, um primo, uma amiga, um(a) parceiro(a), uma vizinha, uma tia da prima da irmã da sua cunhada que é profissional de saúde que insiste em tentar nos convencer que parir é uma dor insuportável? Alguns vão mais longe e a chamam de "dor da morte"!
Morte? Parir é vida! Como que o nascimento de um bebê (ou dois, ou três...), o nascimento de uma mãe, um pai, talvez nenhum pai e duas mães, um irmão, uma família pode significar morte? Não nos parece lógico!
Conversando também, chegamos a seguinte conclusão: (ao menos na grande maioria), esses "conselheiros" NUNCA pariram! Inclusive os profissionais que tentam nos desencorajar, aproveitando-se desse momento em que estamos mais vulneráveis! Experimentem perguntar a essas pessoas que tentam nos convencer a não parir, se as próprias já pariram! Sejam elas conhecidos, familiares, amigos, sejam os próprios profissionais que nas primeiras consultas de pré-natal já nos abrem suas agendas pra marcarmos nossa cesárea, além daqueles que nos enganam durante toda a gestação dizendo que "fazem" parto normal pra no fim da gravidez inventarem uma (ou duas, ou três, ou milhões...) de "indicações" (desnecessárias, lógico!) para não parirmos!
E tem mais! Nunca vimos uma mulher que já pariu dizer que é uma "dor de morte"! Quem melhor do que elas pra nos aconselhar? Obviamente que não se incluem aqui algumas daquelas que foram violentadas no momento do parto... Infelizmente, isso acontece e não é raro! E digo algumas, porque parir é tão lindo, é uma experiência tão profunda que algumas mulheres ainda conseguem guardar boas recordações mesmo sendo violentadas!
Parir é difícil! É visceral! É nosso encontro com a mãe natureza! E, obviamente, tem sua parcela de dor! Não vai ter fadas voando, nem anjos tocando harpas ao fundo! É real! Tem sangue, tem secreção, tem cocô! Isso mesmo! Cagar é tão natural quanto parir e, em alguns casos, nosso corpo pode nos fazer lembrar disso... Mas, sem dúvida, é lindo, é transformador, é libertador, e pode ser o momento em que nos sentiremos mais poderosas, mais donas do nosso corpo em toda vida! E a diferença entre "morrer de dor" e conseguir transcendê-la pode estar em como lidamos com ela... Medo causa dor! Desinformação causa dor! O desconhecido causa dor! E, muitas das vezes, a dor que está na nossa cabeça (e não estamos falando de cefaleia) dói muito mais do que a dor física...
Parir é um rito de passagem e, como tal, deixa marcas, deixa lembranças... Que lembranças você pretende guardar? O jeito é não se deixar dominar pela dor! Não dar ouvidos aos absurdos que nos falam por aí... É olhar pra dentro, se conectar com seu corpo e descobrir a capacidade que ele tem!

Deixamos uma reflexão:
Parir não pode ser "coisa de mulher" à toa! Somos fortes! Somos perfeitamente capazes! Fomos desenhadas pela mãe natureza pra que tudo funcione perfeitamente! Tudo se encaixa! Se você não tem nenhuma indicação para não parir, não deixe de fazê-lo por causa do medo da dor! Esse medo provavelmente vai doer mais do que o parto!
E por fim, deixamos algumas sugestões: que tal tentar "VIVER" esse momento, em vez de "SOBREVIVER" a ele? Que tal acreditar mais na nossa capacidade do que nos limites que outras pessoas tentam nos impor (lembrando que a maioria dessas pessoas nem passaram por essa experiência antes de opinar!)? Que tal tentar transcender essa "dor" e se dar a chance de ter a melhor experiência da sua vida? Que tal parir???

Por Mariana Martins, Noelle Moreira, Viviane Gonçalves, Debora Matias, Ana Coelho, Bruna Lima e Mirian Carla. 

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Relato de Bruna Kaitzor


Descobri que estava grávida dia 01/05/2013, depois de 5 meses de tentativas. Logo contamos pra família e amigos próximos, e, junto com a felicidade de estar gerando uma vida, veio a necessidade de proporcionar um nascimento respeitoso pra esse serzinho.
Primeiro, fomos atrás de uma GO humanizado. Graças a uma amiga que teve seu parto normal hospitalar, eu já tinha saído da Matrix obstétrica e acabei indo em uma que eu não tinha curtido muito (fui antes de engravidar), mas era a única opção que meu plano oferecia.
O atendimento à gestante era bom, mas nunca o tema parto foi abordado pelo médica, somente uma vez a secretária me disse que para “fazer” o parto eu teria que pagar, assinar um termo de ciência e um contrato pela disponibilidade da médica.
Com cerca de 13 semanas, li sobre as intervenções feias no bebê pós nascimento quando se está no hospital. Não gostei. Não queria que meu filho passasse por tudo aquilo logo que nascesse e, então, comecei a namorar a ideia de um parto domiciliar.
Em um dos muitos grupos de apoio à humanização, conheci uma moça que teria um PD. Ela me passou o contato da equipe. Conversei com o marido e ele concordou em irmos conversar com as parteiras e ver como funcionava, quanto custava, como era decidida a remoção no caso e emergência e se precisava mesmo de UTI dentro de casa (mitos envolvendo o PD da Gisele Bündchen).
Saímos da consulta apaixonados pelas parteiras, elas sanaram todas as dúvidas e passaram uma segurança absurda pra nós. Saímos decididos a ter nosso Pedro em casa
Continuei o pré-natal com a médica do plano e iniciei o pilates pra ir me preparando, também fazia caminhadas diárias na praia.
Na véspera da nossa consulta de 30 semanas, a secretária da médica que me acompanhava ligou desmarcando a consulta porque meu plano foi cancelado. Por sorte, o plano de saúde pela empresa do meu marido tinha acabado de ser aprovado e pude continuar o pré-natal com uma médica realmente humanizado, que não recriminava a nossa opção pelo parto em casa, não colocou medo com relação ao peso (engordei 13Kg no total) , esperava até 42 semanas, não fazia toque de rotina… Um sonho!
Com 38 semanas, eu pedi um exame de toque, e x médica atendeu meu pedido – eu estava muito curiosa pra saber se tinha alguma evolução e tinha: quase 2 cm, ou seja, meu corpo estava trabalhando e o melhor SEM DOR!
A partir das 39 semanas, começamos a ter acompanhamento semanal com a parteira (medir pressão, barriga e auscultar o coração do bebê). Só iríamos ao médico de novo se passasse das 41 semanas e precisasse de algum exame que só médicos podem pedir.
Passou Natal, passou Ano Novo e nada de Pedro dar as caras…
No dia 02, acordei às 06h30 pra ir ao banheiro (vida de grávida) e senti uma dor “diferente”. Ela vinha das costas, descia pra barriga e era doloridinha. Até aquele momento, só havia sentido contrações indolores. Na hora avisei ao marido, que estava se arrumando pra ir trabalhar, que estava sentindo contrações e que Pedro poderia chegar naquele mesmo dia.
Como ainda não doía muito, voltei a dormir e fiquei até umas 10h00 na cama. Levantei, tomei meu café e fiquei monitorando as contrações pra enviar pra Doula e pra Obstetras. As contrações eram nada ritmadas, vinham aleatoriamente, mas já bem doloridas.
Fui almoçar na minha mãe e escondi que as contrações estavam acontecendo, nós decidimos não contar o início do TP para não gerar ansiedade nas avós, já que não sabíamos quanto tempo demoraria
Voltei pra casa por volta de 14h00, e a Doula veio aqui ver o que estava acontecendo, já que eu, mãe de primeira viagem, ainda tinha dúvidas. Logo que ela chegou meu marido avisou que a empresa estava sem luz e estava vindo pra casa.
Ela me avaliou, colocando a mão sobre a minha barriga no momento da contração, ela disse que não estavam ritmadas, mas eram eficientes, que essas dores poderiam ser somente pródomos e durarem mais uns dias ou poderiam engrenar. Ela sugeriu eu ficar na bola com água caindo na lombar pra ver se as dores espaçavam, se fosse TP, não espaçariam
Nisso marido já havia chegado e queria ir até a padaria comprar suprimentos para caso Pedro resolvesse nascer naquela madrugada, pedi que ele esperasse eu ficar no chuveiro pra cronometrar as contrações pra enviar pra equipe. 30 minutos em baixo do chuveiro morno, contrações doloridinhas e bem espaçadas: enviamos as informações. Saí do banho, marido foi à padaria, aí o negócio pegou. O banho “apertou” as contrações ao invés de espaçá-las, nessa hora pensei: “Queria que diminuísse pra eu dormir um pouco” e logo depois “Hoje Pedro chega.”
Quando o marido chegou da padaria, eu estava sentada no vaso (era o lugar mais confortável da casa) chorando porque a dor estava bem forte. Ele preparou a casa com os plásticos e lençóis e pediu pra Doula voltar, eu estava com MUITA dor. Ele foi tirando minha roupa, e, quando vi, já estava nua e assim fiquei.
Logo (ou não, nessa hora já não tinha muita noção de tempo) a Doula chegou e colocou agulhinhas de acupuntura na lombar para aliviar a dor. Ajuda bastante.
Eu fiquei quase todo o tempo de quatro, no início pernas esticadas e braços apoiados no sofá, era a forma que eu aguentava quando as contrações vinham.
Às 20h45 a bolsa estourou. Achei que as contrações iriam doer ainda mais, mas não senti diferença significativa de antes ou depois da bolsa estourada. A Doula entrou em contato com as parteiras e, por volta de 21h40, elas chegaram (eu acho, pois o Félix (novela Amor a Vida) estava na TV essa hora). Uma delas perguntou se eu queria fazer um toque para ver a evolução, e (claro) aceitei. Meu pensamento era: Se eu tiver com poucos centímetros não vou aguentar, vou pagar a língua e ir pro hospital. Só queria que a dor passasse.
Ela fez o toque e, pra minha surpresa e deleite, estava totalmente dilatada e só faltava uma pontinha de dedo pra ele nascer. Ouvir isso me deu um gás. Faltava pouco agora.
As contrações continuavam bem doloridas, e elas sugeriram que eu fosse pro banquinho de cócoras pra ajudar o bebê a descer. Meu marido ficou apoiando minhas costas, e eu fiquei fazendo força.
Não sei por quanto tempo fiquei nessa posição, mas ele não estava descendo como “deveria” e elas sugeriram mudar de novo, tentamos mais umas 2 posições, mas elas não eram eficientes, e, cada vez que eu precisava me mexer e mudar de posição, doía MUITO! Elas tentaram fazer rebozo, mas isso doeu mais que tudo e pedi pra elas pararem, no que fui prontamente atendida.
Pedi pra me sugerirem outra posição que ajudasse ele a descer e finalmente nascer. Elas sugeriram cócoras, mas eu não consigo ficar nessa posição (nunca consegui), então a Doula pediu pra eu ficar de joelhos no chão e sentar nos calcanhares, essa posição ficou “confortável” e segui fazendo força. Num determinado momento (não me lembro qual), elas pediram pro marido sentar no sofá, ele ficou de mãos dadas comigo incentivando, a Enfermeira ficou com a mão apoiada no alto da barriga pra ele não subir quando a contração acabasse. A Doula fez um movimento de “apertar” a lombar pra ajudar a passagem, e a obstetra estava embaixo, separando os lábios pra ajudar a saída. Depois esse COMBO, mais umas 3 contrações, senti Pedro sair.
Ele saiu com tudo, de uma vez só. E a dor sumiu feito mágica.
Fiquei imóvel esperando o chorinho que veio um pouco depois, baixinho. A obstetra deu o Pedro pro meu marido, me viraram (eu estava de costas pra onde ele nasceu) e sentaram no sofá. Meu marido entregou o serzinho pequeno e vermelho pra mim – o choro continuava baixinho, sem gritos, sem desespero. Ficamos esperando o cordão parar de pulsar, e ele não quis mamar naquela hora. Ficamos só olhando.
Meu marido que cortou o cordão. Depois, tomei ocitocina pra auxiliar a saída da placenta. Não sei quanto tempo demorou. Após a saída da placenta, fui tomar um banho, lavei os cabelos e voltei pro quarto pra ver se tive lacerações. Tive algumas no início do canal – eu sei que fiz força “além da conta”, mas períneo íntegro (e viva o epi-no).
Depois da foto com a equipe, tomamos lanche (fiquei com uma fome sem igual) e ficamos eu e meu marido namorando nosso bebezinho recém-chegado no chão da sala com 3.400Kg, 50 cm, apgar 7/10, mecônio espesso e uma circular de cordão.
E assim foi a chegada de Pedro à nossa família.

Espero que gostem e se inspirem a parir."

Por Bruna Kaitzor 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Simpósio sobre parto humanizado - Inscrições abertas.

II Simpósio Multidisciplinar de PARTO HUMANIZADO DE DOURADOS
Período de inscrição: de 15 de setembro a 15 de outubro.


Estão abertas as inscrições para o 2º Simpósio Multidisciplinar de Parto Humanizado de Dourados (MS), evento realizado pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e pelo Hospital Universitário, que acontece de 23 a 25 de outubro.

Para quem é esse simpósio?

O evento é voltado para profissionais e estudantes da área da saúde, com palestras e mesas redondas envolvendo médicos, enfermeiras obstetras e doulas. Na programação também está prevista uma tarde na qual serão oferecidas quatro oficinas, com vagas limitadas, de formação profissional com os seguintes temas: "Educação em saúde na atenção primária: pré-natal, parto e puerpério"; "Educação em saúde na atenção primária: sexualidade e planejamento familiar"; "Manejo clínico no aleitamento materno" e "Assistência ao parto natural domiciliar e hospitalar".
Mães, gestantes, pais e ativistas da área de saúde da mulher também podem se inscrever para o evento. Para este público será oferecida uma oficina sobre preparação para o parto. Será cobrada uma taxa de inscrição para profissionais da saúde no valor de R$ 50. Para estudantes, doulas e demais interessados, a inscrição custará R$ 30.

Quem realiza?

O evento é realizado com o apoio da Universidade Federal da Grande Dourados, da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), da Prefeitura de Dourados, da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect) e da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn/MS).


Confira o portal para inscrições e informações sobre o evento: 


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

É impossível ser feliz sozinho....

É impossível ser feliz sozinho....

Dia 27/09 foi quando confirmamos que havia uma vidinha tão especial pulsando em meu ventre....a partir daí, tudo mudou.... Mergulhamos no universo da maternidade, começamos a ler, pesquisar, entender como esse "mundo" funciona, escolhas e mais escolhas a serem feitas....
Percebemos que não tínhamos o menor entendimento sobre quase nada e foi isso que nos permitiu aprender tanto....
Enquanto eu ainda estava preocupada com os complementos, vinha Deus e me presenteava com pessoas especiais... Como a Maira Suarez que me apresentou a Dra Bernadete Bousada, de uma maneira bem inusitada, e indo nessa primeira consulta que "conheci" na sala de espera a Aline Benjamin, que mais tarde vim saber que tínhamos escolhido a mesma Doula, Gleice Marcondes, nosso encontro mais um presente divino, através de uma consulta a um grupo de rede social....e presente após presente o tempo foi passando, e todos esses nomes soltos que aparentavam não ter nenhuma relação, harmoniosamente, quando eu já estava com 30 semanas, começaram a se encaixar e foi a partir deles que consegui formar a minha equipe de parto.... Foi nessa etapa que a maestra Dra Ana Fialho chegou indicada pela Dra Flávia Ponce, ...em resposta de oração numa semana decisiva!
Eu tinha uma vontade, ter um parto natural humanizado, mas ainda não sabia o quanto teria que lutar por isso.
Lutar de todas as formas, comigo mesma, com meus medos, minhas dúvidas, minhas ansiedades.... Lutar com o sistema que tenta nos tirar esse sonho.... Lutar contra os ignorantes que aparecem no meio do caminho pra nos amedrontar... Mas só nos fortalecem, pois nessa luta aprendemos e como crescemos... como gestante, mulher, casal.
Aprendemos que fazer escolha envolve o trabalho de se informar, pesquisar... Envolve riscos a serem assumidos.... Envolve medos a serem superados!
Equipe formada, pesquisas feitas, escolhas definidas, plano de parto acordado.... Tudo certo!
Chega então a 38 semana... Qq hora é hora.... O tempo passa, caminhadas pra aliviar o stress, as noites começam a ficar mais longas, a barriga cada dia mais pesada...o tempo continua passando, vem a 39 semana, a 40a semana, passa a primeira Dpp, e nada..... E agora?!
Ta lá a sua equipe, te acalmando e renovando sua energia... E nós, eu e Janderson, cada dia mais convictos que João Gabriel escolheria o dia e a hora de nascer....esse seria nosso primeiro ato de amor e respeito a essa vida tão especial pra gente!
Quinta-feira, dia 05/06, a um dia de completar 41 semanas, estou na caminhada de rotina nas areias da praia do Recreio com minha amada irmã...e me percebo mais cansada... Vamos voltar??
O dia passa e no final da tarde chega o primeiro sinal.... Perdi o tampão... Misto de sensações, alívio, ansiedade, medo.... Mando mensagem pra Gleice, vou dando notícias da evolução....
A brincadeira de fato começou..... Liguei pra SP, avisei minha família, eles já estavam preparados pra pegar a estrada a qq momento!
Lanchamos e por volta das 19hs as contrações começaram, sem muito ritmo ainda...
Minha irmã e meu marido ao meu lado, se revezando nas anotações das frequências e durações das contrações.... Mudos como eu havia pedido, mas inteiramente presentes, ali, o tempo todo!
A noite vai passando e com ela as contrações se ritmando e aumentando... Já não suporto mais ficar deitada, nem sentada, não acho posição.... Levo a bola pra debaixo do chuveiro, sento nela e deixo a água quente me relaxar....
Conforme a água batia eu relaxava e vivia as contrações uma a uma, um filme vai passando na mente... Nada muito nítido, é seu grande encontro, com sua história, suas experiências e vivências.... Ali... Exposto pra você durante as cada vez mais intensas contrações...
Já são 4:30 da manhã, Gleice chega em minha casa e começa a me ajudar com movimentos corporais e massagens MUITO aliviadoras....fica com ela a missão de manter Dra Ana e equipe informada de toda evolução.... Próximo das 6hs decidimos ir a maternidade... O trajeto pra mim não foi legal, queria pular essa parte...
Chegando lá, burocracias a parte, me submetem ao exame de toque com a médica plantonista, uiii vou na lua e volto de dor,
A boa notícia era: já estava com 10 de dilatação.....
consigo vaga na sala de parto com banheira por volta das 7hs, Dra Ana e equipe chegam....
Vou pra banheira, sempre acompanhada do meu marido, ele se mantém presente e calado como eu havia pedido.... As contrações parecem ficar insuportáveis, mas eu não sinto o tal círculo de fogo.... Fazia força, muita força, nunca imaginei que tinha tanta força pra fazer .... A equipe me incentiva.... Ele ta pertinho, estamos vendo.... Falta bem pouco... E nada... Depois de algumas horas (acho que umas 3) eu peço ajuda.... Elas me sugerem mudar de posição.... Fomos pro quarto, usamos a barra, a cama, fizemos todas as posições.... Gleice usou todo seu repertório comigo.... Ela Foi ótima .... Dra Ana se manteve serena, segura, convicta e muito paciente... Meu marido do meu lado, sendo minha força e meu suporte físico e emocional..... E eu na tal viagem à partolandia... Me sentia cada vez mais fraca.... Mas só pensava: Se cheguei até aqui não posso desistir.... Comecei a clamar pelo meu filho: Vem filho, mamãe quer te conhecer.... Vem João Gabriel, vem pros nossos braços.....
Quando já não sentia mais minhas pernas, e pensei que não conseguiria mais continuar.... Supliquei ajuda.... A equipe tava lá, o tempo todo sempre me ajudando.... E as 13h00 do dia 06/06, ele veio.... Olhando pra mim, pro meu colo, pro meu peito.... Mamou... Se aqueceu.... Ficamos nos olhando.... Janderson nos envolveu em seus braços!
Nessa hora o amor invade, o alívio toma conta, o medo foi superado!
Depois de terminar de pulsar o cordão, papai o cortou... e o acompanhou mais tarde para os procedimentos necessários...sem banho, sem colírio, sem invasões!
Amor maior do mundo.... Nosso filho João Gabriel! Pesando 4.155, medindo 53 cm.... Moreno, cabeludo...o meu presente maior!

Esse não é só nosso relato de parto, é nosso relato de gratidão....

A Deus pelo dom da vida, ao presente maior João Gabriel.... E a todas as pessoas que nos apoiaram e suportaram para a realização desse sonho, de diferentes formas e em diferentes momentos...Dra Maria Cecília Erthal, Flávia Freitas, Raphael Fisher, Lucianna Jardim...


E claro, amada equipe: Ana Fialho, Gleice Marcondes, Vanessa....e agora dando continuidade a querida Fabiola Borba!

Relato Por Caroline Hornos Araujo
 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Relato de Marisa - Mãe de Leo, nascido em fevereiro de 2013 no Hosp Sao Luiz - Unidade Analia Franco

Gostaria sim, de compartilhar o meu momento com outras pessoas.

Durante a gravidez, procurei muitas informações sobre o parto humanizado, normal e natural que a princípio se misturavam na minha cabeça.

Aos poucos, fui percebendo que precisava ter uma introspecção e saber quais eram meus reais medos, desejos e limites e teria que abraçar com todo o meu ser a resposta que viria... mesmo que fosse algo em que a mente não concordasse... mas parei tudo e busquei uma resposta mais íntima.

E, cheguei à conclusão que estava sim disposta ao parto normal humanizado, mas também, gostaria de ter um anestesista à disposição, pois eu não sabia se precisaria ou não do procedimento e como meu corpo iria acontecer no momento.

Por isso, a minha escolha foi pelo parto humanizado hospitalar.

Embora, para mim fosse um caminho natural, encontrei muitos obstáculos, medos, preocupações na família. E vários confrontos foram vividos. O que só me fortaleceu na minha escolha, mas tb me estressou bastante.

Em cada consulta ia a um médico diferente e além dos cesaristas, uma médica disse que faria o normal e descreveu o parto frank e debochou do parto natural, disse que qq coisa já emendava a cesária e tals e saí do consultório horrorizada. Dali fui pra um evento social e só no dia seguinte consegui digerir as informações e tinha finalmente compreendido: precisava de um médico humanizado!

A dificuldade de encontrar em SP um médico que faça parto normal humanizado hospitalar que atenda por convênio é gigante!

Mas achamos o Dr. Alberto Guimarães e gostamos bastante. Já era dezembro qdo fomos a ele e meu filho nasceu em fevereiro.

Na primeira consulta ele já me alertou que viajaria em fevereiro, só 1 semana - mas que pelas contas daria tempo dele fazer o parto..

Bom..seguimos com ele até o big day...

No big day, minha bolsa estourou de madrugada e ligamos para doula, que nos orientou a descansar e tb que eu tomasse bastante líquido.

Infelizmente, para mim a doula tão querida por outras pessoas não funcionou igual...,e o médico estava viajando..fato esse avisado com antecedência, mas esperávamos que fosse diferente...

Não senti contração até umas 15h e por precaução e falta de doula fomos ao Hospital ouvir os batimentos cardíacos e tals e ver se estava tudo bem..

Estava tudo bem e retornamos pra casa (a enfermeira ligou para nossa médica indicada pelo Dr Alberto e que foi muito atenciosa e carinhosa e explicou que seria um parto normal e me autorizou a retornar pra casa).

Em casa, por volta das 18h comecei a sentir as primeiras ondas..e as 19h começou a diminuir o intervalo entre elas e fomos ao hospital novamente (doula por tel, cumprindo sua agenda do dia e seus compromissos).

Cheguei ao hospital um pouco antes das 20h e passei por um pré atendimento, e ouvimos os batimentos e um exame de toque horroroso foi feito.

Dai fui pra sala de parto normal.

A partir daí, foi como eu queria muito e imaginava.

A luz baixa, a bola de pilates - minha grande companheira da partolândia.

Ingressamos na sala eu e meu marido.

A doula chegou depois, me encontrou na bola e a primeira coisa que ela perguntou foi se meu marido tinha o recarregador de celular pq a bateria dela estava esgotando (!)

A massagem nas costas que a doula fez aliviava bastante e foi o melhor que consigo lembrar da presença dela.

O tempo foi passando e chegou aquele momento do expulsivo e que eu não tinha plena consciência naquele momento. Precisava de ajuda. Fiquei travada e sentia que já estava na hora de nascer mas eu não conseguia relaxar o suficiente..foi aí que pedi pra entrar na banheira..a banheira nesse momento não me ajudou em nada..e eu já estava com 10cm de dilatação e sentindo que era a hora, mas nada (!)

Embora a médica tenha sido maravilhosa, tenho certeza que não tinha a vivência de parto normal como o Dr. Alberto que estava ausente, e a doula que se apresentou como obstetriz na primeira consulta, não me sugeriu nada .. nada mesmo, nem que pudesse ajudar ou atrapalhar.. e seu currículo não me ajudou naquele momento..

Foi aí, que pedi a anestesia..

O anestesista foi super hiper cuidadoso, me deixou sentada e aplicou o que foi o combinado: só para aliviar as contrações um pouco...

A partir daí, não foi muito legal..mas foi rápido..

Estava em posição ginecológica na maca e um médico presente fez a manobra Kristeller, a médica me perguntou se era sem episiotomia e eu confirmei e ela respeitou e assim nasceu meu filhote.

A enfermeira do hospital segurou minha mão e me deu uma força incrível para esses momentos finais.

A Rosa Maria, que já tinha acabado seu plantao mas ficou lá, pq naquele dia era seu aniversário e achou tudo aquilo especial..e não houve desapontamento..meu filho nasceu as 23:57 ..

Uma experiência intensa e que em alguns pontos gostaria que tivesse sido diferente.

Ah com o bebê em casa, recebi um contado in box da doula cobrando a outra metade da sua verba e disse que conversaria com o médico e foi o que fiz, e expus o que achava justo.

Graças a Deus tudo correu bem..tive laceração leve que nunca senti nada..., e o parto foi normal.

Disso tudo, pude perceber como os imprevistos acontecem e como é difícil o sistema a qual estamos expostas, tanto cultural quanto médico.

Minha vontade sincera, é que as mulheres REALMENTE pudessem fazer suas escolhas..pq cesária ou parto em casa, me parece que tem uma gama de mulheres que ficam sem poder viver o que realmente gostariam de escolher, com a dignidade e respeito que teriam eu um parto todo particular vivido em casa.


Talvez a melhor opção hoje em dia, seja o parto domiciliar, mas também, por falta de um lugar próprio para nascimento com a visão humanizada e com estrutura necessária.

Por Marisa Rosa Ribeiro, São Paulo - SP

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

RELATO DO NASCIMENTO DA MINHA FILHA – Pela humanização do parto

Sempre me soou estranho ter virado normal no Brasil o nascimento por cirurgia ou o fato de que nenhuma mulher conseguia mais dar a luz. E muito antes de desejar ter um filho, sempre tive a certeza de que quando ele viesse ao mundo seria através de um parto normal. Essa minha vontade talvez tenha ligação com o meu nascimento, que segundo relatos de minha mãe, foi uma indução que acabou em cesariana, cheia de dor e violências obstétricas.
Mas enfim, meu terapeuta há 7 anos é ativista do parto natural e há muito tempo conversamos sobre o sistema obstétrico brasileiro e sobre os benefícios do parto normal - muito antes de ter conhecido meu companheiro e pai da minha filha - mas esse assunto sempre me instigou e talvez em razão de um desejo oculto de ser mãe, queria saber mais!
Foi em janeiro de 2013, quando o filho de um primo nasceu em parto domiciliar, que passei a ter contato com o parto humanizado. Até então, para mim, parto normal era um ato médico hospitalar, em que o bebê nascia com a mãe deitada, enfim, na posição que vemos nos filmes e novelas.
Como eu e meu companheiro já falávamos em ter filho, comecei a ler mais a respeito, assisti o filme O Renascimento do Parto e acabei descobrindo todos os benefícios de um parto natural, sem intervenções médicas, onde a mulher é a protagonista! Quando descobri essas possibilidades só conseguia pensar como seria fantástico poder ter um filho sem seguir um protocolo, que bacana que a mulher é quem pode escolher a melhor posição, porque parir sem anestesia é importante e assim vai, além é claro, de todos os benefícios que um parto humanizado traz na chegada e recepção do bebê nesse mundão...
Para quem me conhece, sabe que sou determinada e sigo firme nas minhas convicções e estava totalmente entregue ao desejo de trazer ao mundo um bebê de uma forma humanizada. Meu marido comprou a idéia, o que entendo fundamental! Quando descobri que estava grávida, já na primeira consulta, fui bem sincera com a médica - que é minha amiga e adepta do parto normal - sobre meu desejo de ter um parto natural, sem intervenções! E de pronto ela me indicou uma enfermeira obstetra/doula para a preparação do parto e acompanhamento durante o trabalho de parto. Já conhecia o trabalho das doulas e queria muito ter alguém me acompanhando, mas vindo a sugestão da médica, tive a certeza de que estava me cercando de profissionais que possibilitariam a chegada da minha filha da maneira mais natural possível, mesmo em ambiente hospitalar. Além disso, para que a recepção da nossa bebê fosse pouco invasiva, sem que fossem feitos procedimentos desnecessários, como aspiração nasal, aplicação de colírio de nitrato de prata, permanência na incubadora, o pediatra que acompanharia a chegada da nossa pequena também segue a linha do parto humanizado. Nos cercamos dos melhores profissionais para iniciar a grande aventura da maternidade/paternidade. Ah, elaboramos um plano de parto seguindo alguns modelos, mas dando nosso toque pessoal (posso disponibilizar).
Enfim, para encurtar e o relato não ficar muito enfadonho, tive uma gestação muito tranquila, sem nenhuma intercorrência, cenário perfeito para um parto natural! Além disso, mantive uma boa alimentação e fiz hidroginástica até a semana do nascimento, ou seja, preparei meu corpo para aguentar firme durante o trabalho de parto! Eu me sentia muito bem fisicamente até o final, mesmo tendo uma barriga enorme e pesada.
Parei de trabalhar com quase 38 semanas e aí era só aguardar o grande dia, que só chegou com 41 semanas e 1 dia! Aff, como é difícil essa espera após a 40ª semana, mesmo eu tendo a certeza de que tudo estava muito bem com a minha bebê.
E foi na sexta-feira, dia 13/06, 6 da manhã que saiu o tampão mucoso, então sabíamos que a grande hora estava chegando.
No sábado, 14/06 eu e minha mãe (meus pais são de outra cidade e estavam em minha casa desde o dia 04/06 aguardando a chegada da primeira neta) acordamos bastante angustiadas, mas já era um sinal, as contrações começaram às 9:40, ainda fracas e em intervalos de 40', depois de 20', 10' e assim foi indo. A minha alegria quando as contrações começaram deixou a angústia matinal para trás, eu até comecei a dançar pela casa, coloquei música e realmente curti o momento que tanto esperava, de vivenciar um parto natural, de receber a minha filha no dia dela, ela estava chegando!!! Fiz meditação e conversei muito com minha filha para ela não ter medo, que podia vir, descer o escuro e estreito canal, pois a estávamos esperando!
Neste início de trabalho de parto, procurei descansar entre uma contração e outra e me alimentar, comi muita fruta, tomei muita água de coco, na hora do almoço me lembrei da parteira mexicana Naolí e comi macarrão e até quando tive vontade comi chocolates para me dar energia. Mais ou menos às 15 horas pedi aos meus pais para irem para a casa da minha tia, pois queríamos ficar sós em casa, com liberdade para deixar as emoções e as dores fluírem, deixar o instinto animal aflorar. Eu realmente entendi tudo que se fala a respeito de ser a mulher protagonista do seu parto, ora descansava, ora caminhava pela casa, permanecia de quatro ou de cócoras (posição que mais me agradou durante a gestação). Meu marido estava controlando as contrações e sua duração, acho que ele estava um pouco nervoso, já que a responsabilidade era toda dele, mas relaxou assim que a doula chegou em casa por volta de 16hs, quando as contrações estavam de aproximadamente 9 em 9 minutos. Quando ela chegou, senti que as contrações se reduziram, mas não tardou eu me entregar novamente e aí o bicho começou a pegar! Ela fez massagens na barriga e nas costas durante as contrações, me amparou e no primeiro toque, por volta de 17 horas constatou que estava só com 2 cm de dilatação, mas meu colo estava bem fino. Caminhei muito pela casa só de calcinha e top, sentia muito calor, já não conseguia mais ficar deitada e acho que tomei uns 3 banhos, os gritos de dor a cada contração já eram bem intensos, eu havia treinado na terapia a importância de se entregar à dor para não retrair, dificultando a dilatação. As contrações durante o banho eram muito fortes, mas mesmo assim, me sentia muito bem, além de relaxar. Às 19 horas já estava com 5 cm de dilatação e a bolsa estava bastante protusa, ou seja, poderia estourar a qualquer momento. Foi então que a doula me disse que esperaríamos minha bebê descer mais para ir para a maternidade Perinatal. Tomei mais um banho, mas aí já estava na tão falada partolândia, contrações ritmadas, nessa fase, como as dores eram muitas, tive alguma dificuldade em relaxar a pélvis, acho que não conversava mais com meu marido ou com a doula, só caminhava de um lado para outro, me agachando em cada contração.
Por volta de 21 horas pegamos o taxi, foram os 11 minutos mais longos da minha vida, pois eu me agarrei no puxador de teto e a cada contração fazia gemidos com uma toalha na boca, o pobre do motorista não merecia ouvir meus gritos. Fomos direto para a sala de parto humanizado (que de humanizado não tem muita coisa, mas enfim, é a opção que temos em termos hospitalares) e no primeiro exame da médica, só de introduzir o dedo para o toque a bolsa estourou e constatou-se que a dilatação era total! Nessa altura eu sentia muita dor e acabei pedindo anestesia, mas felizmente já não dava mais tempo, pois já estava no período expulsivo (aí fez mais sentido porque ficar em casa o máximo que fosse possível, em casa nem lembrei que existe anestesia)! Lembro da médica falando para o pediatra que a dilatação era total, só precisava a bebê descer. Também me recordo de terem mandado deixar o bercinho na sala de parto aquecido, já que o nascimento estava próximo.
Já sentia a necessidade de empurrar e me revezava entre o banquinho de parto humanizado, de cócoras na cama de parto, ou meio sentada na cama com os pés no apoio, eu não tinha mais muita mobilidade, não conseguia ficar caminhando pela sala, pois a dor era muito grande, a posição no banquinho era bastante confortável e facilitava para fazer a força. Eu não sei de onde tirei tanta energia, mas eu fiz muita, muita força, força longa. Meu marido me falava coisas lindas e me amparava enquanto a médica e a doula me orientavam pedindo para que a força fosse mais longa e direcionada na pélvis. A médica passou a auxiliar com os dedos para ver se minha filha estava descendo, para tentar ajuda-la e em cada vez eu sentia que seus dedos entravam muito no canal vaginal. Por volta de meia noite (já estávamos nessa situação por aproximadamente 2 horas e meia) a médica disse que ela não estava descendo, que a cabeça parecia não ter conseguido encaixar, ela tentou auxiliar com a mão, mas não surtiu efeito. Os batimentos da minha filha eram ótimos e não havia sinal de sofrimento fetal e assim ficamos mais 1 hora tentando que ela descesse até que a médica disse que a situação não evoluia, nessa hora eu autorizei episio, fórceps, o que fosse necessário para um parto vaginal, mas o bebê sequer estava no canal e portanto, essas não eram alternativas. Foi então que a médica mandou preparar a sala de cirurgia para que fosse feita a cesariana. Nessas alturas foram quase 4 horas de período expulsivo, leia-se dilatação total, sem evolução.
E assim, à 1:28 do dia 15/06, pesando 4,220 kg e 51,5 cm chegou minha linda filha através de uma cirurgia cesariana. O pediatra a trouxe imediatamente para junto de mim, não sugaram suas vias respiratórias ou aplicaram colírio de nitrato de prata em seu olho, quando ela começou a abrir a boquinha, foi-lhe oferecido o peito e a bebezona, cheia de cabelo e de dobrinhas, sugou imediata e corretamente e ficamos nos namorando até o término da cirurgia, quando voltei para o quarto e meu marido seguiu com o pediatra para o berçário para pesagem (procedimento padrão na maternidade), mas logo estávamos os 3 juntos no quarto.
Me recordo que na sala de cirurgia, antes da aplicação da anestesia, eu repetia copiosamente que queria ser índia, porque acho que se fosse índia ou morasse em uma comunidade amazônica, por exemplo, as parteiras tradicionais conseguiriam ajudar meu bebê a encontrar o caminho e descer pelo canal vaginal. Até acho que isso realmente poderia acontecer, mas a que custo não dá pra saber. O movimento por uma revisão no sistema obstétrico brasileiro, pela humanização do parto, pelo direito da mulher parir e do bebê nascer através de um parto vaginal, que indiscutivelmente é a melhor forma para ambos, não abomina a cesariana como mecanismo para salvar vidas e no nosso caso, talvez se passássemos mais algumas horas tentando que minha bebê encaixasse e descesse, poderíamos não ter tido um bebê saudável, já havia mecônio e ela nasceu fazendo muito cocô, ou seja, mais algumas horas poderiam ter levado a um desfecho diferente. Claro que são só suposições.
O que me consolou naquela mesa de cirurgia é que não desisti do parto natural em nenhum momento, se fosse possível ficar mais 4 horas eu aguentaria, pois estava fisicamente preparada para isso, mas não era para ser desta maneira.
Não posso deixar de registrar que fui muito respeitada por toda equipe médica, tive mobilidade durante o período expulsivo para encontrar a melhor posição para parir minha bebê, tomei bastante líquido, que me auxiliou a fazer força, exerci o meu direito a um parto humanizado! Pela minha experiência, para quem optar por um parto humanizado hospitalar, aconselho passar grande parte do trabalho de parto ativo em casa, no ambiente acolhedor e seguro, com a presença de uma enfermeira obstetra/doula, que é alguém com quem criamos vínculos e nos ajudou sobremaneira nesse momento tão especial.
Eu sempre pensei em fazer um relato de meu parto natural e logo que minha filha nasceu, como acabou em cirurgia cesariana, havia desistido, como se tivesse saído derrotada, como se fosse uma vergonha. Ora, o parto natural não foi possível por questões fisiológicas. No entanto, após reflexão, decidi que tinha sim que relatar tudo que vivenciei, porque foi fantástico, o faria novamente, segui firme nas minhas convicções e propósitos até onde foi possível, liberei muita ocitocina para mim e para minha filha, pois afinal, parto não é troféu e a cirurgia cesariana está aí para salvar vidas. Mas não é só isso, porque é importante também que sejam relatados os casos em que o parto natural não foi possível, para que as mulheres que porventura vierem a passar pelo que passei, saibam que mesmo assim, todo trabalho de parto valeu a pena, principalmente porque seu bebê veio no dia dele, ele passou pelas contrações e foi liberada muito hormônio do amor, que auxiliou em muito na recuperação, na descida do leite e na estabilização hormonal do puerpério!
Por fim, acho importante deixar registrado que ao contrário do que muitas mulheres dizem, não achei a cesariana uma cirurgia simples, não é tranquilo, você passa os primeiros dias sem poder fazer muitos movimentos necessários para cuidar do seu filho no momento que ele acabou de chegar nesse mundão e que precisa do seu aconchego! Ou seja, sempre vale a pena ir até o final na busca de um parto natural.
Felizmente quero ter outro filho e quem sabe terei a experiência de um parto natural humanizado por completo, já que afinal, cada parto é um parto!


Por  Manuela Mehl 



 

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