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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

RELATO DO NASCIMENTO DA MINHA FILHA – Pela humanização do parto

Sempre me soou estranho ter virado normal no Brasil o nascimento por cirurgia ou o fato de que nenhuma mulher conseguia mais dar a luz. E muito antes de desejar ter um filho, sempre tive a certeza de que quando ele viesse ao mundo seria através de um parto normal. Essa minha vontade talvez tenha ligação com o meu nascimento, que segundo relatos de minha mãe, foi uma indução que acabou em cesariana, cheia de dor e violências obstétricas.
Mas enfim, meu terapeuta há 7 anos é ativista do parto natural e há muito tempo conversamos sobre o sistema obstétrico brasileiro e sobre os benefícios do parto normal - muito antes de ter conhecido meu companheiro e pai da minha filha - mas esse assunto sempre me instigou e talvez em razão de um desejo oculto de ser mãe, queria saber mais!
Foi em janeiro de 2013, quando o filho de um primo nasceu em parto domiciliar, que passei a ter contato com o parto humanizado. Até então, para mim, parto normal era um ato médico hospitalar, em que o bebê nascia com a mãe deitada, enfim, na posição que vemos nos filmes e novelas.
Como eu e meu companheiro já falávamos em ter filho, comecei a ler mais a respeito, assisti o filme O Renascimento do Parto e acabei descobrindo todos os benefícios de um parto natural, sem intervenções médicas, onde a mulher é a protagonista! Quando descobri essas possibilidades só conseguia pensar como seria fantástico poder ter um filho sem seguir um protocolo, que bacana que a mulher é quem pode escolher a melhor posição, porque parir sem anestesia é importante e assim vai, além é claro, de todos os benefícios que um parto humanizado traz na chegada e recepção do bebê nesse mundão...
Para quem me conhece, sabe que sou determinada e sigo firme nas minhas convicções e estava totalmente entregue ao desejo de trazer ao mundo um bebê de uma forma humanizada. Meu marido comprou a idéia, o que entendo fundamental! Quando descobri que estava grávida, já na primeira consulta, fui bem sincera com a médica - que é minha amiga e adepta do parto normal - sobre meu desejo de ter um parto natural, sem intervenções! E de pronto ela me indicou uma enfermeira obstetra/doula para a preparação do parto e acompanhamento durante o trabalho de parto. Já conhecia o trabalho das doulas e queria muito ter alguém me acompanhando, mas vindo a sugestão da médica, tive a certeza de que estava me cercando de profissionais que possibilitariam a chegada da minha filha da maneira mais natural possível, mesmo em ambiente hospitalar. Além disso, para que a recepção da nossa bebê fosse pouco invasiva, sem que fossem feitos procedimentos desnecessários, como aspiração nasal, aplicação de colírio de nitrato de prata, permanência na incubadora, o pediatra que acompanharia a chegada da nossa pequena também segue a linha do parto humanizado. Nos cercamos dos melhores profissionais para iniciar a grande aventura da maternidade/paternidade. Ah, elaboramos um plano de parto seguindo alguns modelos, mas dando nosso toque pessoal (posso disponibilizar).
Enfim, para encurtar e o relato não ficar muito enfadonho, tive uma gestação muito tranquila, sem nenhuma intercorrência, cenário perfeito para um parto natural! Além disso, mantive uma boa alimentação e fiz hidroginástica até a semana do nascimento, ou seja, preparei meu corpo para aguentar firme durante o trabalho de parto! Eu me sentia muito bem fisicamente até o final, mesmo tendo uma barriga enorme e pesada.
Parei de trabalhar com quase 38 semanas e aí era só aguardar o grande dia, que só chegou com 41 semanas e 1 dia! Aff, como é difícil essa espera após a 40ª semana, mesmo eu tendo a certeza de que tudo estava muito bem com a minha bebê.
E foi na sexta-feira, dia 13/06, 6 da manhã que saiu o tampão mucoso, então sabíamos que a grande hora estava chegando.
No sábado, 14/06 eu e minha mãe (meus pais são de outra cidade e estavam em minha casa desde o dia 04/06 aguardando a chegada da primeira neta) acordamos bastante angustiadas, mas já era um sinal, as contrações começaram às 9:40, ainda fracas e em intervalos de 40', depois de 20', 10' e assim foi indo. A minha alegria quando as contrações começaram deixou a angústia matinal para trás, eu até comecei a dançar pela casa, coloquei música e realmente curti o momento que tanto esperava, de vivenciar um parto natural, de receber a minha filha no dia dela, ela estava chegando!!! Fiz meditação e conversei muito com minha filha para ela não ter medo, que podia vir, descer o escuro e estreito canal, pois a estávamos esperando!
Neste início de trabalho de parto, procurei descansar entre uma contração e outra e me alimentar, comi muita fruta, tomei muita água de coco, na hora do almoço me lembrei da parteira mexicana Naolí e comi macarrão e até quando tive vontade comi chocolates para me dar energia. Mais ou menos às 15 horas pedi aos meus pais para irem para a casa da minha tia, pois queríamos ficar sós em casa, com liberdade para deixar as emoções e as dores fluírem, deixar o instinto animal aflorar. Eu realmente entendi tudo que se fala a respeito de ser a mulher protagonista do seu parto, ora descansava, ora caminhava pela casa, permanecia de quatro ou de cócoras (posição que mais me agradou durante a gestação). Meu marido estava controlando as contrações e sua duração, acho que ele estava um pouco nervoso, já que a responsabilidade era toda dele, mas relaxou assim que a doula chegou em casa por volta de 16hs, quando as contrações estavam de aproximadamente 9 em 9 minutos. Quando ela chegou, senti que as contrações se reduziram, mas não tardou eu me entregar novamente e aí o bicho começou a pegar! Ela fez massagens na barriga e nas costas durante as contrações, me amparou e no primeiro toque, por volta de 17 horas constatou que estava só com 2 cm de dilatação, mas meu colo estava bem fino. Caminhei muito pela casa só de calcinha e top, sentia muito calor, já não conseguia mais ficar deitada e acho que tomei uns 3 banhos, os gritos de dor a cada contração já eram bem intensos, eu havia treinado na terapia a importância de se entregar à dor para não retrair, dificultando a dilatação. As contrações durante o banho eram muito fortes, mas mesmo assim, me sentia muito bem, além de relaxar. Às 19 horas já estava com 5 cm de dilatação e a bolsa estava bastante protusa, ou seja, poderia estourar a qualquer momento. Foi então que a doula me disse que esperaríamos minha bebê descer mais para ir para a maternidade Perinatal. Tomei mais um banho, mas aí já estava na tão falada partolândia, contrações ritmadas, nessa fase, como as dores eram muitas, tive alguma dificuldade em relaxar a pélvis, acho que não conversava mais com meu marido ou com a doula, só caminhava de um lado para outro, me agachando em cada contração.
Por volta de 21 horas pegamos o taxi, foram os 11 minutos mais longos da minha vida, pois eu me agarrei no puxador de teto e a cada contração fazia gemidos com uma toalha na boca, o pobre do motorista não merecia ouvir meus gritos. Fomos direto para a sala de parto humanizado (que de humanizado não tem muita coisa, mas enfim, é a opção que temos em termos hospitalares) e no primeiro exame da médica, só de introduzir o dedo para o toque a bolsa estourou e constatou-se que a dilatação era total! Nessa altura eu sentia muita dor e acabei pedindo anestesia, mas felizmente já não dava mais tempo, pois já estava no período expulsivo (aí fez mais sentido porque ficar em casa o máximo que fosse possível, em casa nem lembrei que existe anestesia)! Lembro da médica falando para o pediatra que a dilatação era total, só precisava a bebê descer. Também me recordo de terem mandado deixar o bercinho na sala de parto aquecido, já que o nascimento estava próximo.
Já sentia a necessidade de empurrar e me revezava entre o banquinho de parto humanizado, de cócoras na cama de parto, ou meio sentada na cama com os pés no apoio, eu não tinha mais muita mobilidade, não conseguia ficar caminhando pela sala, pois a dor era muito grande, a posição no banquinho era bastante confortável e facilitava para fazer a força. Eu não sei de onde tirei tanta energia, mas eu fiz muita, muita força, força longa. Meu marido me falava coisas lindas e me amparava enquanto a médica e a doula me orientavam pedindo para que a força fosse mais longa e direcionada na pélvis. A médica passou a auxiliar com os dedos para ver se minha filha estava descendo, para tentar ajuda-la e em cada vez eu sentia que seus dedos entravam muito no canal vaginal. Por volta de meia noite (já estávamos nessa situação por aproximadamente 2 horas e meia) a médica disse que ela não estava descendo, que a cabeça parecia não ter conseguido encaixar, ela tentou auxiliar com a mão, mas não surtiu efeito. Os batimentos da minha filha eram ótimos e não havia sinal de sofrimento fetal e assim ficamos mais 1 hora tentando que ela descesse até que a médica disse que a situação não evoluia, nessa hora eu autorizei episio, fórceps, o que fosse necessário para um parto vaginal, mas o bebê sequer estava no canal e portanto, essas não eram alternativas. Foi então que a médica mandou preparar a sala de cirurgia para que fosse feita a cesariana. Nessas alturas foram quase 4 horas de período expulsivo, leia-se dilatação total, sem evolução.
E assim, à 1:28 do dia 15/06, pesando 4,220 kg e 51,5 cm chegou minha linda filha através de uma cirurgia cesariana. O pediatra a trouxe imediatamente para junto de mim, não sugaram suas vias respiratórias ou aplicaram colírio de nitrato de prata em seu olho, quando ela começou a abrir a boquinha, foi-lhe oferecido o peito e a bebezona, cheia de cabelo e de dobrinhas, sugou imediata e corretamente e ficamos nos namorando até o término da cirurgia, quando voltei para o quarto e meu marido seguiu com o pediatra para o berçário para pesagem (procedimento padrão na maternidade), mas logo estávamos os 3 juntos no quarto.
Me recordo que na sala de cirurgia, antes da aplicação da anestesia, eu repetia copiosamente que queria ser índia, porque acho que se fosse índia ou morasse em uma comunidade amazônica, por exemplo, as parteiras tradicionais conseguiriam ajudar meu bebê a encontrar o caminho e descer pelo canal vaginal. Até acho que isso realmente poderia acontecer, mas a que custo não dá pra saber. O movimento por uma revisão no sistema obstétrico brasileiro, pela humanização do parto, pelo direito da mulher parir e do bebê nascer através de um parto vaginal, que indiscutivelmente é a melhor forma para ambos, não abomina a cesariana como mecanismo para salvar vidas e no nosso caso, talvez se passássemos mais algumas horas tentando que minha bebê encaixasse e descesse, poderíamos não ter tido um bebê saudável, já havia mecônio e ela nasceu fazendo muito cocô, ou seja, mais algumas horas poderiam ter levado a um desfecho diferente. Claro que são só suposições.
O que me consolou naquela mesa de cirurgia é que não desisti do parto natural em nenhum momento, se fosse possível ficar mais 4 horas eu aguentaria, pois estava fisicamente preparada para isso, mas não era para ser desta maneira.
Não posso deixar de registrar que fui muito respeitada por toda equipe médica, tive mobilidade durante o período expulsivo para encontrar a melhor posição para parir minha bebê, tomei bastante líquido, que me auxiliou a fazer força, exerci o meu direito a um parto humanizado! Pela minha experiência, para quem optar por um parto humanizado hospitalar, aconselho passar grande parte do trabalho de parto ativo em casa, no ambiente acolhedor e seguro, com a presença de uma enfermeira obstetra/doula, que é alguém com quem criamos vínculos e nos ajudou sobremaneira nesse momento tão especial.
Eu sempre pensei em fazer um relato de meu parto natural e logo que minha filha nasceu, como acabou em cirurgia cesariana, havia desistido, como se tivesse saído derrotada, como se fosse uma vergonha. Ora, o parto natural não foi possível por questões fisiológicas. No entanto, após reflexão, decidi que tinha sim que relatar tudo que vivenciei, porque foi fantástico, o faria novamente, segui firme nas minhas convicções e propósitos até onde foi possível, liberei muita ocitocina para mim e para minha filha, pois afinal, parto não é troféu e a cirurgia cesariana está aí para salvar vidas. Mas não é só isso, porque é importante também que sejam relatados os casos em que o parto natural não foi possível, para que as mulheres que porventura vierem a passar pelo que passei, saibam que mesmo assim, todo trabalho de parto valeu a pena, principalmente porque seu bebê veio no dia dele, ele passou pelas contrações e foi liberada muito hormônio do amor, que auxiliou em muito na recuperação, na descida do leite e na estabilização hormonal do puerpério!
Por fim, acho importante deixar registrado que ao contrário do que muitas mulheres dizem, não achei a cesariana uma cirurgia simples, não é tranquilo, você passa os primeiros dias sem poder fazer muitos movimentos necessários para cuidar do seu filho no momento que ele acabou de chegar nesse mundão e que precisa do seu aconchego! Ou seja, sempre vale a pena ir até o final na busca de um parto natural.
Felizmente quero ter outro filho e quem sabe terei a experiência de um parto natural humanizado por completo, já que afinal, cada parto é um parto!


Por  Manuela Mehl 



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