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terça-feira, 16 de setembro de 2014

Relato de Parto Humanizado pelo SUS após Cesariana - Alis Ribeiro

A primeira vez que eu li/ouvi falar sobre parto humanizado foi através de uma reportagem no jornal no inicio de 2013. Chamou-me a atenção o fato de uma das ativistas ser mãe de uma coleguinha de classe da minha filha mais velha ( Yasmin – 5 anos), achei lindo e lembro de ter comentado : “ acho tudo isso muito lindo só que não é pra mim! “ Eu e meu marido (Adriano) já planejámos o aumento da família quando em poucos meses a gravidez se confirmou, fui atrás das Thais (ativista do GAHP) falei sobre minha preferencia por cesariana, e ela me adicionou a fanpage do grupo, por uma feliz coincidência nos próximos dias aconteceria a primeira exibição do filme O Renascimento do Parto, que estava sendo organizada pelo GAHP, ela me indicou e confesso que hesitei até o último momento, a ideia me parecia interessante, mas não acreditava que alguém fosse capaz de modificar meu pensamento, eu tinha muito medo da dor! Resolvi comprar os ingressos e levei meu marido a minha avó para juntos assistirmos ao filme, precisava da opinião e apoio deles. Após o filme, imediatamente meu pensamento mudou... Primeiro me senti “MENAS” mãe por ter submetido minha primeira filha a tantos procedimentos que hoje EU julgo desnecessários. A segunda reação foi: “OK, já sei que não quero mais a cesárea, mas creio que não consigo ter um parto normal. Como vou fazer?”. Comecei a me “medicar” com doses e doses de informação, lia relatos bons e ruins também, procurei orientações, indicações... Fui me abastecendo de conhecimento. Peguei o telefone da doula e não liguei! Continuei acompanhando as atualizações do GAHP via internet até que na 36a semana (que eu achava ser a 39a) foi quando resolvi tirar as dúvidas finais com a doula (Nayara Rocha), marcamos um encontro meu marido, eu e ela para providenciarmos o plano de parto, com todos os “mimimis” que achei necessário a partir dai o contato era direto com ela via Facebook ou celular, ela fazia parte da nossa gestação agora; até um chute mais forte ou ausência dele eu informava a ela. Não deixei de lado em nenhum momento o acompanhamento do GO, pelo contrário procurei mais um! Esperei pelo meu momento ainda duvidando da minha capacidade de parir, o empoderamento surgiu no dia do parto. Na minha primeira gestação eu havia sentido as dores do período de latência; tudo se encaminhava para o meu desejado parto normal e na hora eu literalmente fugi da maternidade (HGMTR) assustada, mal informada e com um medo PAVOROSO, vale lembrar que tinha naquele dia uma mulher gritava desesperadamente e achei que o mesmo aconteceria comigo. FUGI. Apesar de ter dito durante a gestação que queria um parto normal o despreparo e o medo do desconhecido me fizeram optar por uma cesariana em clínica particular. Nesta nova gestação a ultrassom marcava a DPP (data prevista para o parto) para o dia 17/02/2014, segundo os médicos a bebê nasceria com pouco mais de 3 kg e mais de 47 cm, isso já não me assustava mais! Meu corpo foi projetado para parir e parir conscientemente! Dia 17/02/2014 e nenhum sinal, nada, nem movimentos leves eu sentia, a Nayara (doula) me dizia o que poderia fazer para tentar estimular os movimentos da bebê, fiz caminhada, comi chocolate, ouvi desde as músicas leves até as mais agitadas, dancei, cantei, conversei com minha bebê, por volta de 21:00h ainda amparada pela doula criei coragem e me dirigi até a maternidade para verificar se estava tudo bem, nós sabíamos que a gestação poderia durar mais do que 40 semanas, mas ansiedade e medo não ajudam em nada. Lá chegando ao contrário do que me diziam fui muito bem atendida por todos, fiz os exames e tudo estava normal, fui dispensada com a seguinte frase: “mamãe, fica tranquila sua bebê está bem e devemos esperar, pode ser que ela resolva nascer hoje ou na próxima semana” UFA! Que alívio, queria muito conhecer minha menina, mas era inevitável não pensar na temida dor que essa vontade me traria! De volta em casa, por volta de 23h45min comecei a sentir as dores já conhecidas do período latente era o sinal de que estava chegando a hora. Olhem que maravilhoso é o nosso corpo, minha bebê descansou o dia todo para trabalharmos juntas durante a madrugada inteira... Coração apertadinho, borboletas no estômago, um nó na garganta e emoção a flor da pele. Informei a Nayara que eu estava no período de latência e fui para o banho tentando relaxar e procurando me concentrar nas respirações diafragmáticas aproveitando e curtindo cada contração, o espaço entre uma dor e outra estava menor, decidi então ir para a maternidade, ainda era a mesma equipe que havia encontrado horas antes, dessa vez fui preparada para se caso ouvisse alguma mulher se descontrolar não correr, compreendi que a dor do outro não é a mesma que a minha e que eu sou capaz de parir, aliás, isso acaba se tornando uma espécie de mantra! (SOU CAPAZ DE PARIR!!!) Chegamos na maternidade por volta de 4:00h, entrei sozinha para as primeiras aferições e cerca de 1 hora mais tarde avisaram meu marido que poderia prosseguir com a internação já que eu estava com 3 dedos de dilatação. Assim que ele chegou pedi a enfermeira se poderia usar a bola de pilates que estava à disposição e ela permitiu (acho que acabariam me oferecendo mais tarde), ela me trouxe a bola e orientou meu marido para que fizesse massagem. Ás 6:00h pedi para ter a presença da doula e ela prontamente aceitou, em 30 minutos a Nayara já estava lá com o plano de parto em mãos e nas mãos de enfermeira que leu atentamente e me explicou que a única coisa do meu plano que não poderia ser seguido era com relação a cesariana, caso fosse necessária pedi que o fizessem com as minhas mãos livres para poder pegar minha filha ao nascer, segundo ela isso não seria possível devido ao movimento reflexo das mãos sobre o corte. OK, já estava me dando por satisfeita por ter chegado até ali e estar tudo correndo bem, o que ela disse sobre a cesárea não seria necessário eu ia conseguir! (Nessa hora gritava a mãe empoderada dentro de mim); outro item do meu plano de parto falava sobre poder usar o chuveiro por tempo indeterminado, ela me explicou que poderia usar somente depois das 7:00h; horário em que as caldeiras da maternidade são ligadas. 7:05h corri para o chuveiro com a água bem quente, aliviou em uns 70% a dor . Revezar entre o chuveiro e o vaso sanitário era o meu alívio. Ás 10:00h da manhã as dores eram bem intensas e ritmadas o exame de toque foi realizado por um médico residente muito atencioso e apontava 5 cm de dilatação (problema: ele tinha um questionário em mãos, e tinha que me fazer as perguntas, eu estava me retorcendo de dor esse não é o momento para esse tipo de coisa!) Voltei para o chuveiro e consegui entre uma contração e outra tomar água de coco para recuperar um pouco das minhas forças, comer estava fora de cogitação por causa das dores, não consegui. Entrei na partolândia e como descrever esse momento?! É incrível, li muito pouco quase nada sobre este estado de espírito.... É MÁGICO! Parecia que algo Maior me colocava para dormir; uma forma de analgesia natural para aliviar a dor é um sono profundo de 2 minutos que parece uma eternidade interrompida por uma contração. 11:45h aparece o GO fofo e o médico residente projeto de GO fofo... Acredito que eu estava gritando porque ele chegou e disse: “olha pra mim, para de gritar, isso é desnecessário e vai fazer você ficar sem forças, faz assim respira fundo e solta fazendo força “e o residente acrescentou: ”solta fazendo força de cocô” ( dois homens ; o que eles sabem sobre parir, na prática? ) Minha sorte era ter a Nayara comigo que me dizia baixinho: “ se quiser gritar grita, a dor é você quem está sentindo e o corpo é seu” , como me fez bem lembrar disso, gritei quando tive vontade de fazer , e tenham a certeza de que o moço, ops ele não gosta de ser chamado assim, o DOUTOR não gostou nenhum pouco da mocinha de olhos azuis que me acompanhava (Nayara) (risos) Notem que a figura do GO fofo surgiu ás 11:45h ele não fez nenhum exame somente verificou o exame que o médico residente ( o primeiro) havia feito ás 10:00h e chegou a conclusão de que eu deveria estar com uns 6 cm de dilatação. Saiu me dizendo que tudo estava bem e que se continuasse assim no meio da tarde minha filha estaria comigo. Voltei para o banheiro e a vontade de fazer força aumentava muito, foi quando apareceu a enfermeira e me dei conta que o plantão havia mudado, ela perguntou como eu estava e eu disse que sentia como se a cabeça da bebê estivesse saindo ela disse que na posição em que eu estava ela não conseguia ver nada e pediu para que eu fosse até a maca para que ela pudesse examinar; isso uns 10 min depois que o GO fofo tinha dito que ainda ia demorar um pouco, ela primeiramente perguntou em que posição eu gostaria de parir, respondi que sentada na maca mesmo, refez todos os exames e minha bolsa já tinha estourado (OPA! PARTO A SECO?! INDICAÇÃO DE CESÁREA! ), e também constatou a presença de mecônio (HUM, SOFRIMENTO FETAL AGORA?! CASOS E CASOS...) por precaução ela disse que me encaminharia para a sala de parto, a primeira força eu já tinha feito e os cabelinhos da minha bebê já podiam ser vistos, enquanto o meu marido e a Nayara iam vestir as roupas adequadas para entrar na sala as enfermeiras me levavam rapidamente para a sala de parto, a segunda força foi nesse caminho muito curto e a terceira e última força foi no momento em que a porta da sala se abriu, pronto! O milagre da vida acontecia; EU e MINHA FILHA protagonizávamos a novela de nossa vida enquanto éramos assistidas pela pediatra, enfermeiras obstétricas, marido e doula. Eu acabara de me tornar a mulher empoderada que sabe parir. Ela veio direto para os meus braços e enquanto sugava meu seio o cordão umbilical parava de pulsar e pude cortá-lo (sim, EU pude cortá-lo, a enfermeira permitiu) e ainda com ela em meu seio a placenta nascia. E a dor mais intensa em uma fração de segundos dava lugar ao sorriso mais largo e verdadeiro do mundo, se é que existe o mundo naquele momento... Após a primeira mamada, logo ali ao meu lado ela foi examinada, sem colírio (nitrato de prata), sem aspiração, apenas com uma leve sucção para a retirada do mecônio das narinas. Perfeita!!!! Por ela ter saído rápido demais tive uma pequena laceração e levei 3 pontos. Me sentia pronta para voltar para casa, mais isso ainda não é realidade.. Fui para a sala de recuperação (sozinha) ela para o banho e meu marido e a doula foram dispensados, em poucos minutos trouxeram a bebê para ficar comigo e pude amamentá-la novamente; 4 horas mais tarde já estava com meus familiares, tomando banho sozinha, me alimentando e tirando fotos SENTADA, com minha bebê em meu colo. Como é bom poder ter tido essa experiência, ter tido meu marido ao meu lado fez e faz toda a diferença, o apoio dos familiares e amigos também me tranquilizou, a dor de cada contração era a certeza de que cada minuto de dor era um minuto a menos que faltava para ver o rostinho da minha filha. Espero ter conseguido expressar a alegria e gratidão por ter identificado com a ajuda das pessoas certas a minha capacidade de parir e também mostrar que mães sabem parir e bebês os sabem nascer, e que é possível ter um parto natural com doula e depois de uma cesariana através do SUS. Minha Nataly nasceu dia 18/02/2014 pesando 2,975kg, medindo 49 cm, ás 12:15h depois de 12 horas de trabalho de parto. Sem intervenções cirúrgicas. Ser mãe mamífera em plenitude me enche de orgulho!

 Por Alis Ribeiro - Santa Catarina SC.

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