Gostaria sim, de compartilhar o meu momento com outras
pessoas.
Durante a gravidez, procurei muitas informações sobre o
parto humanizado, normal e natural que a princípio se misturavam na minha
cabeça.
Aos poucos, fui percebendo que precisava ter uma
introspecção e saber quais eram meus reais medos, desejos e limites e teria que
abraçar com todo o meu ser a resposta que viria... mesmo que fosse algo em que
a mente não concordasse... mas parei tudo e busquei uma resposta mais íntima.
E, cheguei à conclusão que estava sim disposta ao parto
normal humanizado, mas também, gostaria de ter um anestesista à disposição,
pois eu não sabia se precisaria ou não do procedimento e como meu corpo iria
acontecer no momento.
Por isso, a minha escolha foi pelo parto humanizado
hospitalar.
Embora, para mim fosse um caminho natural, encontrei
muitos obstáculos, medos, preocupações na família. E vários confrontos foram
vividos. O que só me fortaleceu na minha escolha, mas tb me estressou bastante.
Em cada consulta ia a um médico diferente e além dos
cesaristas, uma médica disse que faria o normal e descreveu o parto frank e
debochou do parto natural, disse que qq coisa já emendava a cesária e tals e
saí do consultório horrorizada. Dali fui pra um evento social e só no dia
seguinte consegui digerir as informações e tinha finalmente compreendido:
precisava de um médico humanizado!
A dificuldade de encontrar em SP um médico que faça parto
normal humanizado hospitalar que atenda por convênio é gigante!
Mas achamos o Dr. Alberto Guimarães e gostamos bastante.
Já era dezembro qdo fomos a ele e meu filho nasceu em fevereiro.
Na primeira consulta ele já me alertou que viajaria em
fevereiro, só 1 semana - mas que pelas contas daria tempo dele fazer o parto..
Bom..seguimos com ele até o big day...
No big day, minha bolsa estourou de madrugada e ligamos
para doula, que nos orientou a descansar e tb que eu tomasse bastante líquido.
Infelizmente, para mim a doula tão querida por outras
pessoas não funcionou igual...,e o médico estava viajando..fato esse avisado
com antecedência, mas esperávamos que fosse diferente...
Não senti contração até umas 15h e por precaução e falta
de doula fomos ao Hospital ouvir os batimentos cardíacos e tals e ver se estava
tudo bem..
Estava tudo bem e retornamos pra casa (a enfermeira ligou
para nossa médica indicada pelo Dr Alberto e que foi muito atenciosa e
carinhosa e explicou que seria um parto normal e me autorizou a retornar pra
casa).
Em casa, por volta das 18h comecei a sentir as primeiras
ondas..e as 19h começou a diminuir o intervalo entre elas e fomos ao hospital
novamente (doula por tel, cumprindo sua agenda do dia e seus compromissos).
Cheguei ao hospital um pouco antes das 20h e passei por
um pré atendimento, e ouvimos os batimentos e um exame de toque horroroso foi
feito.
Dai fui pra sala de parto normal.
A partir daí, foi como eu queria muito e imaginava.
A luz baixa, a bola de pilates - minha grande companheira
da partolândia.
Ingressamos na sala eu e meu marido.
A doula chegou depois, me encontrou na bola e a primeira
coisa que ela perguntou foi se meu marido tinha o recarregador de celular pq a
bateria dela estava esgotando (!)
A massagem nas costas que a doula fez aliviava bastante e
foi o melhor que consigo lembrar da presença dela.
O tempo foi passando e chegou aquele momento do expulsivo
e que eu não tinha plena consciência naquele momento. Precisava de ajuda.
Fiquei travada e sentia que já estava na hora de nascer mas eu não conseguia
relaxar o suficiente..foi aí que pedi pra entrar na banheira..a banheira nesse
momento não me ajudou em nada..e eu já estava com 10cm de dilatação e sentindo
que era a hora, mas nada (!)
Embora a médica tenha sido maravilhosa, tenho certeza que
não tinha a vivência de parto normal como o Dr. Alberto que estava ausente, e a
doula que se apresentou como obstetriz na primeira consulta, não me sugeriu
nada .. nada mesmo, nem que pudesse ajudar ou atrapalhar.. e seu currículo não
me ajudou naquele momento..
Foi aí, que pedi a anestesia..
O anestesista foi super hiper cuidadoso, me deixou
sentada e aplicou o que foi o combinado: só para aliviar as contrações um
pouco...
A partir daí, não foi muito legal..mas foi rápido..
Estava em posição ginecológica na maca e um médico
presente fez a manobra Kristeller, a médica me perguntou se era sem episiotomia
e eu confirmei e ela respeitou e assim nasceu meu filhote.
A enfermeira do hospital segurou minha mão e me deu uma
força incrível para esses momentos finais.
A Rosa Maria, que já tinha acabado seu plantao mas ficou lá,
pq naquele dia era seu aniversário e achou tudo aquilo especial..e não houve
desapontamento..meu filho nasceu as 23:57 ..
Uma experiência intensa e que em alguns pontos gostaria
que tivesse sido diferente.
Ah com o bebê em casa, recebi um contado in box da doula
cobrando a outra metade da sua verba e disse que conversaria com o médico e foi
o que fiz, e expus o que achava justo.
Graças a Deus tudo correu bem..tive laceração leve que
nunca senti nada..., e o parto foi normal.
Disso tudo, pude perceber como os imprevistos acontecem e
como é difícil o sistema a qual estamos expostas, tanto cultural quanto médico.
Minha vontade sincera, é que as mulheres REALMENTE
pudessem fazer suas escolhas..pq cesária ou parto em casa, me parece que tem
uma gama de mulheres que ficam sem poder viver o que realmente gostariam de
escolher, com a dignidade e respeito que teriam eu um parto todo particular
vivido em casa.
Talvez a melhor opção hoje em dia, seja o parto
domiciliar, mas também, por falta de um lugar próprio para nascimento com a
visão humanizada e com estrutura necessária.
Por Marisa Rosa Ribeiro, São Paulo - SP
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